Análise de DNA amplia mistério do Lago dos Esqueletos no Himalaia

Estudo mostra que despejo de cadáveres no Lago Roopkund ocorreu ao longo de um milênio

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Robin George Andrews
The New York Times

No Himalaia indiano, a 5.000 metros de altitude, fica o Lago Roopkund. Com 39 metros de largura, ele passa a maior parte do ano congelado num vale solitário. Mas, nos dias mais quentes, traz um espetáculo macabro, em que centenas de esqueletos humanos, alguns com carne ainda pendurada, emergem do que ficou conhecido como o Lago dos Esqueletos.

Quem eram essas pessoas, e o que aconteceu com elas? Uma ideia predominante era que elas morreram ao mesmo tempo em um evento catastrófico, há mais de mil anos. Uma pesquisa antropológica inédita, feita há anos, estudou cinco esqueletos e calculou que teriam 1.200 anos.

Mas uma nova análise genética de cientistas da Índia, EUA e Alemanha abalou a teoria. O estudo, que examinou o DNA de 38 restos humanos, indica que não houve só um grande despejo de cadáveres, mas vários, ao longo de um milênio.

Lago Roopkund, no Himalaia, que tem centenas de esqueletos humanos de origem misteriosa   - Reprodução/Youtube

O relatório, publicado na terça (20) na Nature Communications, levou a uma “visão muito mais rica sobre as possíveis histórias deste local” do que esforços anteriores, diz Jennifer Raff, geneticista e antropóloga da Universidade do Kansas, que não participou do estudo.

Antropólogos têm conhecimento do Lago Roopkund há décadas, mas pouco se sabia sobre a proveniência dos esqueletos. Avalanches, migração do gelo e até humanos perturbaram e moveram os despojos, o que torna difícil decifrar quando e como os indivíduos foram enterrados ali, muito menos quem eram.

A análise ajudou a entender um pouco os ossos. Os pesquisadores, liderados em parte por Niraj Rai, especialista em DNA antigo no Instituto de Paleociências Birbal Sahni, na Índia, e David Reich, geneticista da Universidade Harvard, extraíram DNA de dezenas de amostras e identificaram 23 homens e 15 mulheres.

Com base nas populações de hoje, os indivíduos se encaixam em três grupos genéticos. Vinte e três, homens e mulheres, tinham ascendência típica de contemporâneos sul-asiáticos; seus restos foram depositados entre os séculos 7 e 10. Alguns eram mais antigos que outros, o que sugere que muitos foram enterrados a intervalos de gerações.

Então, em algum momento entre os séculos 17 e 20, outros dois grupos aparecem: um indivíduo de ascendência relacionada ao leste asiático e, curiosamente, 14 de ascendência do Mediterrâneo oriental.Como eles acabaram ali é uma incógnita. Não há evidências de infecções bacterianas, então provavelmente não foi uma epidemia. O ambiente de grande altitude talvez tenha sido fatal.

Em todo caso, por séculos, “é difícil acreditar que cada um morreu exatamente do mesmo modo”, diz Éadaoin Harney, doutorando em Harvard e autor do estudo.

Entre os indivíduos, há crianças e idosos, mas nenhum da mesma família. Assinaturas químicas dos esqueletos indicam que tinham dietas diferentes. E, se há relatos de suas viagens, nenhum foi achado. A arqueologia é cheia de enigmas, diz Reich, e quando a ciência escava, “enriquece a história de maneiras imensuráveis”.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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