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Adriano Caliman

Cortes no orçamento ameaçam o progresso da ciência brasileira

Disparidade na produção científica das universidades do país diminuiu nos últimos anos

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Adriano Caliman

Os cortes de verbas destinadas ao Ministério da Educação (MEC) e ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e Comunicações (MCTIC) anunciados pelo governo federal têm provocado grande insegurança quanto a capacidade das instituições de pesquisa brasileiras darem continuidade ao processo de melhoria da sua produção científica observada nos últimos anos. 

A produção científica pode ser avaliada de forma absoluta, contabilizando o número de artigos científicos publicados, e relativa, contabilizando o número de vezes que um artigo científico é citado em outras pesquisas publicadas na literatura científica mundial. 

Uma forma de avaliar conjuntamente a quantidade e a qualidade da produção científica de uma instituição ou país é contabilizar quantos de seus artigos científicos estão incluídos entre os artigos científicos mais citados no mundo.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub
O ministro da Educação, Abraham Weintraub - Pedro Ladeira/Folhapress

O Leiden Ranking, calculado pela Universidade Holandesa de Leiden, se baseia nas informações disponíveis na plataforma Web of Science e permite medir a performance científica dos países através do desempenho de suas principais instituições de pesquisa. 

As 23 universidades brasileiras analisadas pelo Leiden Ranking são públicas. No período de 2009 a 2017, o número de publicações destas instituições que foram classificadas entre os artigos científicos top 10% (grupo que compreende os 10% de artigos científicos mais citados no mundo), aumentou de 4.659 para 11.240, cerca de 141%. 

Essa tendência também é expressa entre os artigos top 1% (classificação mais conservadora que considera o 1% de artigos mais citados no mundo), onde o número de artigos aumentou de 415 para 1.309, crescimento de 215%. 

A desigualdade da produção científica entre as 23 instituições, medida pelo coeficiente de variação, também diminuiu. Considerando os artigos top 10%, a desigualdade no período analisado reduziu de 140% para 118%; para os top 1% a queda foi de 142% para 125%. 

A redução na desigualdade científica ocorreu devido ao aumento da contribuição relativa de artigos top 10% e top 1% publicados pelas universidades das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sul.

É inegável que, comparativamente, a performance científica das universidades brasileiras esteja ainda aquém da produção científica das principais universidades do mundo.

Entretanto, ao analisarmos a evolução das universidades brasileiras, o progresso é evidente e se deve, em grande parte, aos investimentos federais em educação feitos em anos anteriores, como a criação e ampliação de novas universidades públicas, contratação de professores e aumento do número de vagas e bolsas de estudo para estudantes de graduação e pós-graduação. 

Assim, embora exista muito o que melhorar na nossa ciência, temos apresentado progresso. Como mais de 90% da pesquisa brasileira é realizada nas universidades públicas, ela depende de verbas do MEC e do MCTIC, que são destinadas a agências como Capes e CNPq, por exemplo.

Os cortes de recursos para essas instituições são, portanto, uma real ameaça à continuidade do progresso da ciência brasileira.

Adriano Caliman é professor associado de ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte 

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