Descrição de chapéu The New York Times

Cientistas recriam sons da voz de sacerdote egípcio que foi mumificado

Cerca de 3.000 anos após sua morte, Nesyamun pôde ser ouvido com a ajuda de um aparelho vocal impresso em 3D

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Nicholas St. Fleur
Nova York | The New York Times

Em vida, Nesyamun foi um sacerdote egípcio que cantava palavras de adoração no templo de Karnak, em Tebas. Após sua morte, ele foi mumificado e selado em um caixão com a inscrição “Nesyamun, a voz verdadeira”. 

Agora, aproximadamente 3.000 anos depois, Nesyamun pôde ser ouvido novamente —com a ajuda de um aparelho vocal impresso em 3D.

“Ele desejava que sua voz continuasse, de alguma forma”, afirmou David Howard, cientista da fala em Royal Holloway, na Universidade de Londres. Ele e sua equipe usaram um tomógrafo para criar uma versão impressa em 3D da boca e da garganta de Nesyamun —e combinaram o resultado com uma laringe eletrônica para reconstruir “o som que sairia de seu trato vocal se ele estivesse no caixão e sua laringe revivesse”.

Até agora, a equipe sintetizou apenas um som, que se assemelha aos das vogais “a” e “e”. Mas a descoberta, publicada na última semana na revista Scientific Reports, pode significar a base para se recriar e ouvir a voz de uma pessoa da antiguidade.

In an undated photo from Leeds Teaching Hospitals/Leeds Museums and Galleries, the mummy of Nesyamun, a priest who lived in Thebes about 3,000 years ago, ready for CT scanning. Scientists used a 3-D printer, a loudspeaker and computer software to recreate a part of the voice of a 3,000-year-old mummy. (Leeds Teaching Hospitals/Leeds Museums and Galleries via The New York Times)  -- NO SALES; FOR EDITORIAL USE ONLY WITH NYT STORY MUMMY 3D MOUTH  BY NICHOLAS ST. FLEUR FOR JAN. 23, 2020. ALL OTHER USE PROHIBITED. --
Múmia de Nesyamun antes de ser submetida a tomografia - Leeds Teaching Hospitals/Leeds Museums and Galleries/The New York Times

Em 2016, funcionários do Museu da Cidade de Leeds, no Reino Unido, onde Nesyamun esteve nos últimos 200 anos, levaram a múmia a um hospital para ser submetida a uma tomografia computadorizada. O exame mostrou que grande parte de sua garganta permanecia intacta.

“O processo de mumificação foi fundamental nesse caso”, afirmou Joann Fletcher, egiptóloga na Universidade de York, na Inglaterra, autora do artigo. “A excelente qualidade de preservação alcançada pelos antigos embalsamadores fez que o trato vocal de Nesyamun se mantivesse em ótimo estado.”

Usando a tomografia computadorizada, a equipe imprimiu em 3D uma cópia do trato vocal de Nesyamun, entre a laringe e os lábios. Depois, Howard pegou um alto-falante, semelhante aos usados em carros de vendedores, removeu a parte da buzina e a substituiu pelo trato vocal impresso em 3D. 

Então, ele conectou o alto-falante a um computador, que o permitiu criar uma forma de onda eletrônica semelhante à usada em sintetizadores de fala comuns. Isso funcionou como uma laringe artificial.

Usando um software de computador, Howard pôde gerar um som que passava pelo alto-falante e entrava no aparelho vocal impresso, criando o som da vogal da múmia.

“Nesyamun certamente ainda não pode falar”, disse. “Mas acho que é perfeitamente plausível sugerir que um dia poderemos produzir palavras o mais próximo possível do que seriam as dele.”

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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