Médica brasileira faz serviços de correio, é RP e limpa banheiro na Antártida

Capitão tenente Letízia Aurilio Matos, 40, conta como é trabalhar na Estação Comandante Ferraz

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Antártida

Na Estação Comandante Ferraz, a base científica brasileira na Antártida, a capitão tenente Letízia Aurilio Matos, 40, é médica e também responsável por limpar o banheiro coletivo feminino, fazer relações públicas e serviços de correio.

Formada em medicina no Rio de Janeiro, fez prova e entrou para o corpo de saúde da Marinha em 2015.

Está desde novembro na sua primeira missão antártica e deve ficar no continente gelado por pouco mais de um ano. Solteira, ela tem namorado que ficou no Rio. 

A capitão tenente Letízia Aurilio Matos, 40, integra o grupo de saúde da Marinha desde 2015
A capitão tenente Letízia Aurilio Matos, que além de médica da Marinha na base científica na Antártida, limpa o banheiro feminino, é relações públicas e encaminha correspondências. Matos integra o grupo de saúde da Marinha desde 2015 - Cláudia Collucci/Folhapress

A cerimônia de reinauguração da nova base científica está prevista para começar às 20h30 desta quarta (15), depois de ter sido adiada na terça (14) em razão das más condições meteorológicas da região que impediram o pouso do avião com as autoridades convidadas.

Em um mesmo dia eu vi você atendendo paciente na base e limpando o banheiro coletivo feminino. Como é isso para você?
Aqui é a nossa casa por 13 meses. Como nossa casa, a gente tem que cuidar, limpar, fazer comida, além da atividade profissional que eu tenho aqui de ser médica. Fazer isso é uma contribuição para o grupo, que tem que estar muito bem entrosado para não sobrecarregar ninguém. Isso contribui bastante para o nosso crescimento profissional e pessoal.

Essas atividades paralelas à medicina fazem parte da sua formação na Marinha?
Com certeza. Toda missão tem a contribuição profissional, mas a gente tem que saber o tempo da missão, com quem a gente vai estar e o que vai fazer além da sua atividade profissional. Para estar na Antártida é preciso uma preparação de dois anos. Todos são voluntários, fazemos atividades físicas em grupo, para ter muito entrosamento. Também conhecemos as famílias [de todos do grupo], fazemos confraternização, para, no finalzinho de novembro, virmos para cá.

Além da medicina, quais outras atividades você desenvolve na Antártida?
Todo mundo tem sua atividade profissional e a secundária. Eu aqui sou agência postal — quando chega carta eu envio para onde a pessoa quer — e relações públicas.

E além de limpar o banheiro…
Além de limpar a minha casa.

Como médica, quais os atendimentos mais frequentes você realiza por aqui?
São os atendimentos ortopédicos. Eles [militares que trabalham na base] carregam muito peso e fazem muitas atividades. Porém, toda vez que entra aqui qualquer outro tipo de pessoa, pesquisadores ou civis, a gente sempre orienta contra hipotermia e desidratação. São fatores de risco importantes aqui na Antártida.

Quais recursos vocês dispõem para atendimento médico?
Temos todos os recursos para promoção de saúde e prevenção de doenças. Oriento sobre as roupas adequadas e hidratação. Temos também o setor de estabilização. Qualquer ocorrência aqui a gente consegue estabilizar o paciente [a nova base conta até com desfibrilador]. A gente faz contato com a base chilena Frei [que fica a três horas de barco da base brasileira] e é feita a evacuação aérea para Punta Arenas.

Você atendeu alguma ocorrência grave?
Ainda nenhuma. As mais prevalentes são as dores musculares, que a gente trata com anti-inflamatórios, relaxantes musculares, alongamentos orientados. Também oferecemos cuidados nas atividades físicas na academia, que são orientadas por um militar.

Essa é a sua primeira missão antártica. Passou aqui Natal, Ano-Novo…
Natal, Ano-Novo, promoção para capitão tenente, aniversário…

E como está sendo essa experiência para você?
Profissionalmente, é uma experiência muito boa, mas, pessoalmente, é imensurável. Estar aqui com esse grupo base Ferraz, compor essa reinauguração da base, é tudo muito emocionante, especialmente depois de tudo o que aconteceu há oito anos [o incêndio que destruiu a base e matou dois militares]. É uma experiência que eu vou levar para a vida toda

Como fica a vida pessoal nessa distância toda? É conciliável?
É super. Essa é a minha primeira missão mais longa, mas já fiz outras de quatro a cinco meses. Minha família me apoia muito, o meu namorado também. Se eu não tivesse esse apoio todo, com certeza me sentiria mais vulnerável.

A repórter Cláudia Collucci viajou à Antártida a convite da Marinha do Brasil

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