Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Museu Nacional do Rio teme não ter dinheiro para reabrir em 2022

Quase um ano e meio após incêndio, doações de pessoas ou empresas representam apenas 1% do total coletado

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Rio de Janeiro

Em 7 de setembro de 2022, o Brasil completará os 200 anos de sua independência. Um lugar-símbolo da história do país, porém, poderá ainda estar fechado nessa data após ter sido devastado por um dos incêndios mais marcantes do país.

O Museu Nacional, antiga casa da família imperial e primeira instituição científica brasileira, ainda não tem o dinheiro suficiente para a reconstrução do palácio e teme não conseguir a verba a tempo de cumprir a meta de reabri-lo para a comemoração do bicentenário.

Os valores que a instituição recebeu desde a tragédia, há quase um ano e meio, somam cerca de R$ 102 milhões. O custo estimado exclusivamente para a reconstrução do palácio é de R$ 300 milhões.

Como o projeto de restauração da fachada e dos telhados contratado pelo museu não ficou pronto até o fim do ano, a maior fatia desse dinheiro —vinda de emendas parlamentares recebidas em 2019— não pôde ser reservada para a recuperação do edifício em si. E não há mais emendas previstas para 2020.

“Estamos preocupados com a possibilidade de, quando o projeto ficar pronto em março, não termos dinheiro para começar as obras”, diz o diretor do museu, Alexander Kellner, que costuma criticar a burocracia da máquina pública. “Seria um papelão comemorar o bicentenário da independência sem o palácio.”

Mas ele diz não ter perdido as esperanças ainda. “Basta que pessoas que têm poder de decisão se envolvam. O Brasil tem que ajudar, 2020 é um ano crucial para o museu”, repete.

Os R$ 102 milhões conseguidos até agora foram ou estão sendo distribuídos em outras ações: obras emergenciais do edifício, a construção de um novo campus acadêmico e administrativo, o resgate do acervo atingido pelo fogo e reformas de outros prédios.

 

A única obra definitiva no palácio que já tem data certa (abril) para começar é a recuperação dos ornamentos das salas nobres e do Jardim das Princesas, onde as filhas de Dom Pedro 2º, Isabel e Leopoldina, passeavam e estudavam.

Algumas verbas prometidas ainda não começaram a chegar. Entre elas estão R$ 10 milhões esperados desde 2018 do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). A pasta, agora sob gestão de Jair Bolsonaro não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Também há outros R$ 50 milhões anunciados pela Fundação Vale em setembro do ano passado e mais R$ 20 milhões oferecidos pela Assembleia Legislativa do Rio em outubro.

A Vale afirmou que o dinheiro está garantido, que ele será transferido conforme as ações forem sendo definidas pelo comitê que gere a reconstrução (formado pelo Museu Nacional, UFRJ, Vale e Unesco) e que já fez um outro repasse para a contratação de uma consultoria especializada em restauros.

Já a Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) disse que, como combinado em reunião no ano passado, aguarda a apresentação do projeto executivo da obra pelo Museu Nacional, que está atrasado.

A UFRJ (universidade federal responsável pelo museu) informou que a quantia prevista para a reconstrução do palácio em 2020 é de cerca de R$ 70 milhões, mas não discriminou as fontes do dinheiro, por isso não é possível saber se os valores já mencionados estão ou não inclusos no montante.

As doações de pessoas ou empresas representam apenas 1% do total coletado pelo museu até agora. Elas somam R$ 1,5 milhão, arrecadados por meio de depósitos espontâneos após o incêndio, de vaquinhas online e do Pronac (Programa Nacional de Apoio à Cultura, em que o doador abate o valor do imposto de renda).

Um dos que cederam quantias volumosas foi o casal Paula Lavigne e Caetano Veloso, com R$ 33 mil. O restante pediu anonimato. Teve quem doou para atividades específicas, como a recuperação de uma coleção de fósseis preferida.

Para comparação, as doações prometidas à igreja parisiense Notre-Dame chegaram a 922 milhões de euros (R$ 4 bilhões) em outubro, seis meses após o incêndio que a devastou parcialmente.

Por aqui, o Museu Nacional diz apostar na transparência dos gastos para atrair brasileiros e estrangeiros generosos. “Temos confiabilidade porque colocamos as contas de forma pública e bilíngue”, afirma o diretor, ressaltando a ajuda do governo alemão, que cedeu até agora cerca de R$ 1,5 milhão e promete mais. 

A maior parte dessas doações foi ou está sendo usada para a recuperação do acervo perdido no fogo. Logo após o incêndio, a equipe do museu montou um esquema de trabalho para escavar manualmente os destroços e achar as peças, o que deve durar mais cerca de quatro meses.

Até agora, cerca de 80% da área do palácio foi “limpa”. Ainda não é possível afirmar quantos itens foram encontrados porque alguns, por exemplo, estão fragmentados, mas a instituição estima que mais da metade das coleções tiveram materiais relevantes recuperados.

A ideia é que o edifício histórico não abrigue mais os laboratórios, salas de aula e a parte administrativa do museu. Para isso, vai ser construído um novo campus batizado de Cavalariças, em um terreno de 44 mil m² cedido pelo governo federal. O plano é abrir um centro educacional nesse espaço ainda em 2020.

Já as investigações sobre as causas do incêndio até hoje não foram concluídas. Em abril passado, a Polícia Federal divulgou apenas que o fogo começou por um curto-circuito em um ar-condicionado, sem esclarecer se alguém seria responsabilizado. Agora, diz que o inquérito será finalizado neste primeiro semestre.

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