Telescópio espacial mais famoso e querido, Hubble completa 30 anos

Ele revolucionou a astronomia, mudou a forma como se faz ciência, produziu imagens icônicas e segue na ativa

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São Paulo

O telescópio espacial mais famoso e querido do mundo está fazendo 30 anos. O Hubble é também o mais longevo em operação no espaço, e segue na ativa com a promessa de muitas descobertas no futuro.

O sonho de uma plataforma orbital de observação astronômica nasceu na Nasa nos anos 1970. Foram duas décadas de gestação, em parceria com a ESA (Agência Espacial Europeia), até que o Hubble pudesse ser lançado pelo ônibus espacial Discovery, em 24 de abril de 1990.

O satélite foi concebido para passar por reparos e atualizações periódicos, realizados por astronautas. É por esse motivo que o Hubble segue firme e forte. E também é a razão pela qual ele não se tornou o maior e mais caro embaraço da história da pesquisa astronômica (até o lançamento, US$ 4,7 bilhões).

O Hubble subiu ao espaço com um pequeno defeito na curvatura do seu espelho, suficiente para embaçar as imagens do telescópio. Com isso, a primeira missão de reparos foi antecipada, e em 1993 o ônibus espacial Endeavour subiu ao espaço para “dar óculos ao Hubble”, como gosta de brincar a astrônoma Duilia de Mello, vice-reitora da Universidade Católica da América, nos EUA, e pesquisadora que trabalha desde o início com o telescópio.

Consertado, o Hubble começou a cumprir sua promessa de revolucionar a astronomia. Não houve campo que ele não tenha tocado, da pesquisa de formação de estrelas e de sistemas planetários ao estudo dos objetos do nosso próprio Sistema Solar, passando pelas investigações até hoje não concluídas sobre os mistérios da expansão cósmica, da origem e evolução de galáxias, da matéria escura e da energia escura.

Uma de suas maiores descobertas foi sobre o nada. Em 1995, o diretor do telescópio, Robert Williams, decidiu produzir o chamado Campo Profundo do Hubble, apontando o telescópio por um longo tempo para o que parecia ser um espaço vazio, a fim de registrar as mais distantes profundezas do Cosmos.

“Isso mudou a forma como a gente faz ciência e como vemos o Universo”, conta Duilia de Mello. “Foi uma campanha incrível e arriscada, porque o resultado poderia ter sido pouco importante.”

Em vez disso, o que se viu foi uma imagem icônica, com milhares de galáxias muito distantes, remontando à época em que o Universo era jovem, num pedacinho de céu onde parecia não haver nada.

Imagem do telescópio Hubble com milhares de galáxias distantes
Imagem do telescópio Hubble com milhares de galáxias distantes - Nasa

Além da salvadora missão de 1993, o Hubble passou por outras quatro atualizações, a última delas em 2009, que revitalizou o telescópio e lhe garantiu um futuro que vivenciamos e celebramos.

Aliás, por pouco a missão não foi realizada, por oferecer riscos considerados excessivos aos astronautas, depois que todos os problemas de segurança dos ônibus espaciais foram desnudados, após o acidente com o Columbia, que matou seus sete tripulantes, em 2003.

Na ocasião, o telescópio já era um ícone mundialmente admirado, e Duilia de Mello tem uma lembrança muito querida do que aconteceu na época. "As crianças americanas fizeram um apelo e começaram a enviar o dinheiro da merenda deles para o instituto do Hubble para consertar o Hubble", ela conta. "É uma demonstração de como o telescópio virou um ícone na vida das pessoas, até das crianças."

Hoje, para seu aniversário, as instalações responsáveis por operar o telescópio andam com pouco movimento, em razão da pandemia da covid-19.

"Estamos operando principalmente remotamente", diz Kenneth Carpenter, diretor de operações. "Temos duas de pessoas no local para enviar os comandos, mas estamos tentando restringir isso a um dia por semana. O resto está trabalhando de casa."

O telescópio segue produtivo como sempre. Três de seus giroscópios, exigidos para o apontamento preciso, estão funcionando, e a Nasa já tem planos de contingência para operá-lo até mesmo com um único giroscópio. Com isso, espera-se que o Hubble possa continuar trabalhando – e nos encantando com as belezas do cosmos – por pelo menos mais uma década.

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