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Baixo investimento em inovação deixa Brasil despreparado para enfrentar novo coronavírus, diz Ipea

Investimentos na área são tímidos comparados aos de outros países, dizem pesquisadores ligados ao Ministério da Economia

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São Paulo

O baixo investimento do Brasil em pesquisa e inovação deixou o país despreparado para enfrentar a pandemia do coronavírus e sair da crise quando o pior ficar para trás, na avaliação de pesquisadores do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que é ligado ao Ministério da Economia.

Numa nota técnica em que compara os investimentos feitos pelo Brasil com os de outros países, o grupo conclui que a timidez das iniciativas brasileiras aumenta a dependência tecnológica do país e agrava riscos para a população na pandemia, contribuindo para a falta de equipamentos e tratamentos.

O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações lançou dois editais para seleção de projetos de empresas e pesquisadores interessados em desenvolver tecnologias para o combate ao coronavírus, incluindo testes diagnósticos, equipamentos médicos e pesquisas sobre vacinas e medicamentos.

Juntos, os dois editais oferecem R$ 70 milhões, incluindo recursos que já faziam parte do orçamento do ministério e dinheiro do Ministério da Saúde e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Outros fundos do ministério foram reforçados em R$ 447 milhões pelo governo federal.

Nas estimativas do grupo do Ipea, os recursos aplicados pelo governo brasileiro representam apenas 1,8% do orçamento anual dedicado a pesquisas e inovação. O esforço de outros países foi muito maior, alcançando 4% nos EUA, 11% no Reino Unido e 12% na Alemanha.

“Não é de hoje que os investimentos do Brasil nessa área estão diminuindo”, observa a economista Fernanda De Negri, uma das responsáveis pela nota do Ipea. “No contexto atual, isso limita muito a capacidade do país de se articular com as redes de pesquisa na linha de frente do enfrentamento do vírus”.

Os EUA destinaram até agora US$ 6 bilhões para ampliar os orçamentos de institutos de pesquisa do governo na área de saúde —sem contar os investimentos que o setor privado tem feito em meio à corrida dos laboratórios para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos para a Covid-19.

A Alemanha decidiu investir US$ 2,3 bilhões, com recursos destinados a fundos de capital de risco para garantir a sobrevivência de empresas de tecnologia ainda em desenvolvimento. O Reino Unido pretende ampliar em US$ 1,7 bilhão seus investimentos, incluindo subvenções para empresas.

“Claro que o Brasil não tem condições de igualar o esforço desses países, mas seu isolamento preocupa”, afirma De Negri. “Isso ficará evidente no dia em que descobrirem uma vacina para o coronavírus, quando provavelmente iremos para o fim da fila entre os países que terão acesso à imunização”.

Ela observa que o Brasil já encontra dificuldades para adquirir testes e equipamentos essenciais para o tratamento dos doentes, como os respiradores necessários para casos graves e os equipamentos de proteção individual para profissionais de saúde.

A nota dos pesquisadores do Ipea também critica a falta de agilidade do governo brasileiro. Os projetos selecionados pelos dois editais lançados até aqui serão conhecidos em junho e terão prazo de dois anos para apresentar resultados —o dobro do tempo previsto em outros países analisados pelo grupo.

A nota técnica será publicada pela Rede de Pesquisa Solidária, iniciativa que reúne pesquisadores da USP e outras instituições acadêmicas públicas e privadas para estudar as políticas de combate à pandemia no Brasil. Os boletins estão disponíveis online.

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