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Bolsistas reivindicam da Fapesp prorrogação de bolsas e estudo de impactos da Covid-19

Grupo diz que home office inadequado, laboratórios fechados e suspensão de viagens inviabilizam entrega de pesquisas dentro do prazo

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Gonçalves

Bolsistas da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) estão descontentes com as medidas tomadas pela instituição para mitigar os impactos da pandemia de Covid-19 em suas pesquisas.

A Fapesp é a responsável pela maior parte do financiamento de pesquisa no Brasil. Além da concessão de bolsas e auxílio à pesquisa na pós-graduação, o órgão também financia grandes projetos de infraestrutura no país.

Saiu dos cofres da fundação o recurso para erguer o maior acelerador de partículas da América Latina, o Sirius, em Campinas. Também recebeu financiamento da fundação o navio oceanográfico Alpha Crucis, do Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo), em 2012.

Em uma carta que será enviada ao conselho superior da fundação e à qual a Folha teve acesso, os pesquisadores bolsistas reclamam da curta prorrogação dada à concessão das bolsas de estudo durante a pandemia, de apenas dois meses além do prazo estipulado.

O grupo que diz representar ao menos cem pesquisadores de todas as áreas da ciência defende que a fundação estenda para mais um ano o benefício aos bolsistas afetados pela pandemia.

“A extensão de dois meses no período das bolsas estipulado no início da pandemia está, atualmente, desatualizada, pois os problemas relativos às dinâmicas sociais advindas do isolamento social tiveram a duração de, no mínimo, 12 meses”, segundo trecho da carta.

Os pesquisadores dizem que a prorrogação de prazo segue em concordância com o que fez a Capes (agência federal ligada ao MEC voltada à pós-graduação no país), que estendeu prazo de vigência de suas bolsas para até seis meses, bem como a USP que concedeu mais 12 meses para entrega de dissertações e teses.

Fachada do prédio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) em São Paulo - Folhapress

O biomédico Juliano Quintella Dantas Rodrigues, 40, foi impedido de viajar para os Estados Unidos, onde cursaria parte de seu pós-doc na Universidade do Alabama. Em maio de 2020, a análise da bolsa internacional de Rodrigues caiu na malha fina da Fapesp por causa do agravamento da pandemia.

Sem poder avançar com sua pesquisa sobre medicamentos que podem modificar o metabolismo do coração na universidade estrangeira, o biomédico tem enfrentado, agora, problemas no laboratório da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

“Por causa da pandemia, o laboratório tem ficado aberto apenas 12 horas por semana. Antes, eram 60 horas. Dessa forma, a minha pesquisa está muito prejudicada”, diz.

O fechamento de laboratórios, bibliotecas, arquivos e de instituições fundamentais para a realização das pesquisas compromete “de forma direta as dinâmicas sociais dos grupos de estudo”, dizem os pesquisadores.

A descontinuidade das atividades de creches e escolas e falta de acesso aos familiares também sobrecarregaram o ritmo de estudos, sobretudo, das pesquisadoras com filhos pequenos, relatam os bolsistas.

O documento também lista os percalços que os pesquisadores têm enfrentado com home office e conexão de internet inadequados que os deixaram em “condições desiguais” em relação aos tempos pré-pandêmicos.

Sem citar números, os pesquisadores relatam também a ocorrência da própria Covid-19 entre o grupo e o surgimento de depressão e outras doenças psiquiátricas por falta de perspectivas durante a crise sanitária.

“A Fapesp não divulgou, até o presente momento, a intenção de realizar algum estudo que avalie o amplo impacto da pandemia nas pesquisas que fomenta. Dessa maneira, nós praticamente não temos dados que permitam que ela trace estratégias de recuperação do cenário científico do estado de São Paulo”, dizem os bolsistas na carta.

Para o grupo, um plano amplo de recuperação das atividades perdidas seria capaz de agilizar a burocracia em torno das dificuldades vivenciadas nas pesquisas sem a necessidade do envio de “demandas individuais”.

“A estrutura organizacional da instituição, desenhada para um contexto pré-Covid-19, tem sido insuficiente para fornecer respostas ágeis capazes de viabilizar o planejamento das atividades futuras das pesquisas”, aponta trecho da carta elaborada pelos bolsistas.

O grupo de bolsistas também dizem que dinheiro não será o problema para a Fapesp em 2021, uma vez que a fundação paulista teve seu orçamento integral aprovado.

A Folha encaminhou à Fapesp as reivindicações listadas pelos bolsistas, mas a fundação disse por nota que não se manifestaria.

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