Cientistas com condecorações da Ordem Nacional do Mérito Científico fizeram uma renúncia coletiva da medalha concedida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O gesto foi motivado pela exclusão de dois cientistas da lista de agraciados que haviam sido alvos de apoiadores do governo federal.
Mais de 20 cientistas assinaram a carta em apoio a Marcus Vinícius Guimarães Lacerda, pesquisador da Fiocruz, e Adele Schwartz Benzaken, diretora da Fiocruz Amazônia.
Nesta sexta-feira (5), em decreto publicado em edição extra do Diário Oficial da União, Bolsonaro anulou a admissão dos pesquisadores na classe de "comendador" por conhecimentos sobre ciências da saúde.
Os cientistas que assinam o documento afirmam estar honrados com a possibilidade de serem agraciados com "um dos maiores reconhecimentos que um cientista pode receber" no Brasil, mas salientam que a homenagem é oferecida por um governo que "não apenas ignora a ciência, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva".
"Enquanto cientistas, não compactuamos com a forma pela qual o negacionismo em geral, as perseguições a colegas cientistas e os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência e tecnologia têm sido utilizados como ferramentas para fazer retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade cientifica brasileira nas últimas décadas", declaram.
Lacerda foi o coordenador de um estudo no Amazonas feito em abril de 2020 que concluiu não haver benefícios no uso de altas doses de cloroquina em pacientes graves de Covid-19. Após a divulgação dos resultados da pesquisa, ele se tornou alvo de ameaças de morte e ofensas pessoais por parte de apoiadores do presidente, o que o fez andar com escolta armada no ano passado.
Já a diretora da Fiocruz Amazônia, Benzaken foi demitida do departamento que elaborava as políticas para prevenção, vigilância e controle de infecções sexualmente transmissíveis do Ministério da Saúde no início de 2019. A saída do cargo teria relação com uma cartilha voltada para a saúde de homens trans.
Os cientistas haviam recebido a condecoração por meio de um decreto presidencial publicado na última quinta-feira (4). Na ocasião, o próprio Bolsonaro recebeu a condecoração na classe Grã-Cruz.
Isso ocorreu pois as regras sobre a Ordem Nacional do Mérito Científico determinam que serão agraciados com a condecoração o presidente da República, o ministro da Ciência Tecnologia e Inovação, entre outros.
Antes da exclusão dos pesquisadores, o epidemiologista Cesar Victora já havia recusado o título de grão-cruz da ordem concedido pelo governo federal na última quarta-feira (3). Segundo carta-aberta escrita pelo médico, mesmo que seja um grande "reconhecimento para qualquer cientista brasileiro", o deixou dividido por ter sido feito por uma gestão que "não apenas ignora, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva".
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