Descrição de chapéu The New York Times

Utilidade de estátua misteriosa de 2.700 anos intriga cientistas na Europa

Objeto de bronze de 15 centímetros foi o 2º do tipo achado na Alemanha e o 13º perto do Mar Báltico

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Franz Lidz
The New York Times

Dois verões atrás, enquanto mergulhava com máscara nas águas pantanosas do rio Tollense, na costa da Alemanha no Mar Báltico, um motorista de caminhão de 51 anos chamado Ronald Borgwardt fez uma descoberta surpreendente.

Vasculhando a turfa, ele encontrou uma estatueta de bronze de 15 centímetros de altura com uma cabeça em forma de ovo, braços em círculo, seios nodosos e um nariz que faria inveja a um tamanduá.

A estatueta, com um cinto e uma gargantilha, foi apenas a segunda do tipo escavada na Alemanha, embora a 13ª encontrada perto do Mar Báltico. A primeira surgiu por volta de 1840. Todas são semelhantes em forma e proporção.

Estatueta de bronze de 15 centímetros encontrada na Alemanha - Volker Minkus/The New York Times

"A estatueta mais recente representa um enigma arqueológico", disse Thomas Terberger, arqueólogo e chefe de pesquisa do Departamento Estadual de Patrimônio Cultural da Baixa Saxônia, na Alemanha. "O que foi, como chegou lá e para que foi usada?"

Notavelmente, 24 anos antes, enquanto remava pelo mesmo pântano, o pai de Borgwardt avistou um monte de ossos saindo de um barran co. Ele foi buscar o filho e juntos vasculharam a lama. Entre seus achados havia um osso de braço humano perfurado por uma ponta de flecha de sílex e um bastão de madeira de 75 cm de comprimento semelhante a um taco de beisebol.

A exploração da área revelou os esqueletos de meia dúzia de cavalos, dezenas de artefatos militares e os restos de mais de 140 indivíduos, na maioria homens entre 20 e 40 anos, que apresentavam sinais de trauma contuso. Praticamente todas as relíquias foram datadas em cerca de 1.250 a.C., sugerindo que se originaram de um episódio violento que pode ter ocorrido em um único dia.

Uma pesquisa geomagnética em 2013 revelou que esse trecho estreito do Vale Tollense já fez parte de uma rota comercial dividida por um calçamento de pedra e madeira de 120 metros que havia sido usada para transportar âmbar para pontos no Mediterrâneo e no Mar Adriático. A estrada do âmbar antecedeu o derramamento de sangue em pelo menos cinco séculos.

Hoje, a área é considerada o campo de batalha mais antigo da Europa. "Embora a região fosse escassamente povoada há 3.270 anos, mais de 2.000 pessoas estiveram envolvidas no conflito", disse Terberger, que ajudou a iniciar uma série de escavações baseadas nas descobertas originais dos Borgwardt.

Em um artigo recém-publicado na revista arqueológica Praehistorische Zeitschrift, Terberger e cinco colegas propõem que a estatueta encontrada pelo jovem Borgwardt datava do século 7 a.C. e era um peso de balança, um objeto de adoração ou uma combinação de ambos.

"A questão não respondida é: por que a estatueta acabou em um vale de rio ao longo de uma rota comercial centenas de anos depois de uma grande batalha ter ocorrido lá?", disse Terberger. "Isso aconteceu por acaso, ou o cenário era um local de comemoração de um conflito do século 8 a.C. ainda presente na história oral dos povos da Era do Bronze tardia? E, se a estatueta representasse uma deusa, ela desempenhava um papel em um sistema de peso primitivo?

Coma seu coração

Lorenz Rahmstorf, professor de arqueologia pré-histórica na Universidade de Göttingen e coautor do estudo, disse que pesos e balanças começaram a ser usados por volta de 3.000 a.C., quando o comércio se desenvolveu no Egito e na Mesopotâmia. Os primeiros dispositivos de pesagem eram um sistema simples para avaliar o valor das mercadorias, consistindo de duas placas presas a uma viga suspensa fixada em um poste central. Os textos sumérios apresentam as primeiras menções a uma unidade de peso, a mina, que inclinava a balança com cerca de 500 gramas, ou 18 onças.

As escalas de balança se espalharam para o Mar Egeu no oeste e para a cultura do Vale do Indo, no sul da Ásia, a leste. Em meados do segundo milênio antes de Cristo, sistemas de peso surgiram na Itália e, por volta de 1.350 a.C., ao norte dos Alpes.

"Conjuntos de pequenos pesos de bronze e vigas de equilíbrio em osso foram misturados em sacos e colocados ao lado dos mortos em vários túmulos no leste da França e sul da Alemanha", disse Rahmstorf. "Ainda não temos evidências claras de quando o equipamento de pesagem foi introduzido no norte da Alemanha e na Escandinávia."

Nenhuma civilização antiga atribuiu às balanças um significado simbólico e espiritual mais forte do que os egípcios no segundo milênio antes de Cristo até o período romano. Seu momento sobrenatural mais solene era a Pesagem do Coração.

A crença egípcia dizia que, depois da morte de uma pessoa, Anúbis, o deus do embalsamamento com cabeça de chacal, levava o falecido ao tribunal de Osíris, onde o coração morto era pesado contra uma pena de Maat, a personificação da verdade, da justiça e da ordem cósmica.

Se um coração fosse puro, seria tão leve quanto a pena e o falecido era considerado digno de entrar na vida após a morte. Thoth, mestre do conhecimento e patrono dos escribas, ficava de prontidão para registrar o veredicto final e, sob a balança, Ammut, o devorador —cabeça de crocodilo, antebraço de leão, traseiro de hipopótamo—, estava pronto para consumir os condenados.

Uma riqueza de deusas

A maioria das 13 estatuetas de bronze foi recuperada dentro ou ao redor de rios perto da costa do Báltico —seis apareceram no estreito de Öresund, que separa a ilha dinamarquesa da Zealand da província sueca de Scania. A estatueta encontrada no Tollense por Borgwardt é a maior e, com 155 gramas, a mais pesada.

Durante muito tempo se acreditou que a economia do norte da Europa durante a Era do Bronze fosse baseada na troca de presentes, e não no comércio. A ideia de que as estatuetas de bronze representavam medidas de um sistema de peso escandinavo incipiente foi apresentada em 1992 pelo arqueólogo sueco Mats Malmer.

Depois de calcular a erosão e a perda de peso, Malmer analisou as 12 "Deusas da Riqueza" existentes quanto à consistência e proporcionalidade do peso. Seus cálculos indicavam que o peso das estatuetas poderia ser expresso em gramas como múltiplos de um denominador comum, 26.

Em uma tarde recente na Universidade de Göttingen, Terberger deduziu os pesos de algumas das figuras: 55 gramas, 85 gramas, 102 gramas, 103 gramas, 103 gramas, 104 gramas, 106 gramas, 110 gramas, 132 gramas, 133 gramas. Do outro lado da sala, seu colega de departamento Rahmstorf disse: "Nem todas as estatuetas se encaixavam perfeitamente no esquema, mas a maioria estava bem próxima".

As análises iniciais de Rahmstorf com seu colega Nicola Ialongo são promissoras, mas ele alertou que "estes seriam pesos pesados, de mais de 100 gramas a vários milhares de gramas". Como não há textos e inscrições dessa época do norte da Europa, "atualmente, a existência de pesos e balanças nessa área é provável, mas ainda apenas hipotética".



Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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