Estudo revela como estrela 'vampira' faz sua vítima no espaço

Pesquisadores confirmam que par não é acompanhado de um buraco negro, como proposto anteriormente

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Will Dunham
Washington | Reuters

Astrônomos deram uma boa olhada no que acontece quando uma estrela "vampira" suga as camadas de material externo de uma estrela companheira, reduzindo a vítima "mordida" a um mero núcleo estelar.

Pesquisadores disseram na quarta-feira (2) que dados obtidos usando telescópios do ESO (Observatório Europeu do Sul), no Chile, esclareceram a natureza de um sistema estelar chamado HR 6819, mostrando que suas duas estrelas companheiras não eram acompanhadas de um buraco negro, como foi proposto anteriormente.

As duas estrelas existem como um sistema binário, casadas gravitacionalmente em uma órbita que dura cerca de 40 dias. Embora os sistemas binários sejam comuns, o que torna este original é que forneceu uma rara visão das consequências imediatas do que é chamado de "vampirismo estelar".

Impressão artística mostra a estrela "vampira" (à dir.) sugando o material externo de sua parceira do sistema binário HR 6819
Impressão artística mostra a estrela "vampira" (à frente) sugando o material externo de sua parceira do sistema binário HR 6819 - ESO/L. Calcada/Handout via Reuters

"O que queremos dizer com vampirismo estelar é que uma estrela sugou o material externo de outra estrela", disse a astrônoma Abigail Frost, da KU Leuven, na Bélgica, principal autora da pesquisa publicada na revista Astronomy & Astrophysics.

"Isso pode acontecer se as estrelas viajarem perto o suficiente uma da outra e a atração gravitacional de uma puxar o material da outra."

As estrelas crescem lentamente à medida que envelhecem. Aquelas em sistemas binários com duas orbitando próximas —como neste caso— podem aumentar de tamanho além de um limiar em que sua gravidade pode protegê-las do empuxo da companheira. Então, a estrela que cresce mais rápido é vítima do vampirismo.

"Quando isso ocorre, as áreas internas da estrela que foi 'mordida' podem ser expostas, mostrando assinaturas de elementos que de outro modo não seria fácil enxergar", disse Frost.

Esse sistema binário está localizado a cerca de 1.000 anos-luz —a distância que a luz percorre em um ano, ou 9,5 trilhões de km— da Terra.

Um estudo de 2020 propôs que esse sistema continha o que teria sido o buraco negro mais próximo da Terra —em um casamento triplo com uma estrela orbitando perto do buraco negro e outra orbitando longe—, mas novos dados indicam o contrário.

Pesquisadores que questionaram a conclusão de 2020 aderiram ao novo estudo com os cientistas envolvidos no trabalho anterior.

"Ainda é um sistema especial e, na minha opinião, ainda mais", disse o astrônomo do ESO Thomas Rivinius, coautor do novo estudo e principal autor da pesquisa de 2020.

"Os buracos negros existem em abundância, pois, uma vez formados, são permanentes. Não é o que acontece com o que verificamos: este é um estágio de transição de curta duração —digamos, cerca de 10.000 anos— na evolução de um sistema especial de estrela dupla."

O sistema tem duas estrelas do tipo B, que são grandes, muito quentes, muito brilhantes e de cor azulada. A título de comparação, nosso sol é uma estrela do tipo G, menos quente e menor que as do tipo B.

A rápida rotação observada na estrela "vampira" pode ter sido causada por material da outra estrela que caiu anteriormente em sua superfície. A "vampira" agora também tem um disco de material em torno dela. As estrelas orbitam bem próximas uma da outra —um terço da distância que separa a Terra do Sol—, embora não tão perto quanto algumas estrelas binárias.

A massa atual da estrela "vampira" é de aproximadamente quatro a cinco vezes a do sol. A massa da outra estrela, originalmente talvez cinco a seis vezes a massa do sol, agora pode ser menor do que uma massa solar.

Com o vampirismo, a maior parte do material externo sugado da estrela maior acaba incorporada à companheira sedenta.

"Como essas camadas externas não foram tocadas pela combustão nuclear no centro da estrela original, esse material é 'fresco'", disse Rivinius.

"E então o outro aspecto do 'vampirismo' é que esse suprimento de hidrogênio fresco realmente 'rejuvenesce' a estrela que a recebe, fazendo com que pareça mais azul do que deveria ser para sua idade."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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