Registro mais antigo do calendário maia é achado em pirâmide na Guatemala

Cientistas descobriram fragmento com o dia 'Sete Cervos'; calendário de 260 dias era um de muitos sistemas de tempo maias

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Will Dunham
Washington | Reuters

Um glifo representando um dia chamado "Sete Cervos" inscrito sobre fragmentos de um mural que datam do século 3 a.C. e foram encontrados dentro das ruínas de uma pirâmide na Guatemala assinalam o uso mais antigo conhecido do calendário maia, uma das realizações mais famosas dessa cultura da antiguidade.

Os fragmentos foram encontrados no sítio arqueológico San Bartolo, na selva do norte da Guatemala. O sítio ficou famoso com a descoberta em 2001 de uma câmara subterrânea contendo murais complexos e coloridos datados de cerca de 100 a.C. e que retratavam cerimônias e cenas mitológicas maias, disseram pesquisadores na quarta-feira (13).

Pessoa segura fragmentos
Fragmentos são a evidência mais antiga do uso do calendário maia; símbolo diz respeito ao dia "sete cervos" - Karl Taube/Proyecto Regional Arqueologico San Bartolo/Reuters

Os fragmentos com o glifo "Sete Cervos" foram descobertos no interior da mesma pirâmide de Las Pinturas onde foram encontrados os murais ainda intactos, de um período posterior. Como foi o caso com essa estrutura, os maias frequentemente construíam templos de dimensões modestas e então iam erguendo versões sucessivamente maiores acima das versões anteriores. A pirâmide de Las Pinturas acabou alcançando cerca de cem metros de altura.

O glifo de "Sete Cervos", um dos 260 dias nomeados do calendário maia, encontrado nos fragmentos do mural, consistia do algarismo 7 desenhado na escrita maia antiga sobre o contorno da cabeça de um cervo.

David Stuart, professor de arte e escrita mesoamericanas na Universidade do Texas e autor principal da pesquisa publicada no periódico Science Advances, descreveu os fragmentos como "dois pedaços pequenos de gesso branco que caberiam na mão e que estiveram no passado fixados a uma parede de pedra".

"A parede foi destruída intencionalmente pelos maias antigos quando estavam reconstruindo seus espaços cerimoniais, e acabou se tornando uma pirâmide. Os dois pedaços se encaixam e têm caligrafia pintada em preto, começando com a data ‘Sete Cervos’. O resto é difícil de ler."

"As pinturas dessa fase estão todas fortemente fragmentadas, diferentemente das da câmara posterior, mais famosa", disse Stuart.

Até agora a notação mais definitiva do calendário maia datava do primeiro século a.C..

Apoiado em observações dos movimentos do Sol, Lua e planetas, o calendário era baseado no ciclo ritual de 260 dias nomeados. O calendário de 260 dias, chamado calendário tzolk'in, era um dos vários sistemas maias interligados de cálculo do tempo, que também incluíam um ano solar de 365 dias, e um sistema maior chamado "contagem longa" e um sistema lunar.

O calendário foi uma das grandes realizações de uma cultura que também desenvolveu um sistema de escrita composto de 800 glifos, dos quais os exemplos mais antigos também vêm do sítio San Bartolo. Os maias construíram templos, pirâmides, palácios e observatórios e praticavam agricultura sofisticada sem usar ferramentas de metal ou a roda.

San Bartolo foi um centro regional durante o período pré-clássico maia, entre 400 a.C. e 250 d.C. Essa era deitou as bases para o florescimento da cultura maia durante o subsequente período clássico, conhecido por cidades que incluíram Tikal, na Guatemala, Palenque, no México, e Copan, em Honduras.

Cerca de 7.000 fragmentos de mural —alguns tão pequenos quanto uma unha, outros medindo até 20 cm por 40 cm— foram encontrados em San Bartolo, correspondendo a um "quebra-cabeça gigante", segundo a professora de antropologia no Skidmore College, de Nova York, Heather Hurst, co-autora do estudo.

O "Sete Cervos" e outras notações vistas em 11 fragmentos do mural de San Bartolo examinados no estudo apontam para a existência de convenções artísticas e de escrita maduras na região na época, sugerindo que o calendário já devia estar em uso havia muitos anos.

"Outros exemplos, possivelmente ainda anteriores a este, provavelmente serão encontrados em outros sítios", disse Hurst.

"A tradição de escrita representada nestes 11 fragmentos é diversa, expressiva. A tecnologia de preparo das tintas e a fluidez caligráfica dos escribas são impressionantes. É uma tradição já consolidada de escrita e arte", ela acrescentou.

Algumas comunidades maias usam o calendário antigo até hoje.

"Esse sistema de calendário perdura há pelo menos 2.200 anos, mantido pelos maias ao longo de tempos de transformações incríveis, tensões e tragédias", comentou Stuart.

Tradução de Clara Allain

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