Descrição de chapéu The New York Times

Futuro do turismo espacial já é agora, ou quase

Por preços menores, mas ainda caros, balões se tornam opção para quem sonha ir ao espaço

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Debra Kamin
The New York Times

Ilida Alvarez sonha em viajar ao espaço desde criança. Mas ela, dona de uma firma de mediação legal, tem medo de voar e não é bilionária. São dois fatos que, até poucas semanas atrás, ela tinha certeza que deixariam sua fantasia tão fora de seu alcance quanto as estrelas. Estava equivocada.

Recentemente Alvarez e seu marido, Rafael Landestoy, reservaram uma passagem numa cápsula pressurizada, com espaço para dez pessoas e acoplada a um imenso balão cheio de hélio, que vai flutuar suavemente até uma altitude de 100 mil pés enquanto os passageiros tomam champanhe e se reclinam em assentos ergonômicos. A reserva custou US$ 500; o voo propriamente dito sairá por US$ 50 mil e deve durar entre seis e 12 horas.

"Parece que foi feito sob medida para pessoas medrosas como eu, que não querem embarcar num foguete", comentou Alvarez. Organizada por uma companhia chamada World View, seu voo está previsto para partir do Grand Canyon em 2024.

Ilustração de mulher olhando pela janela de uma nave vê a Terra
Jason Lyon/The New York Times

Menos de um ano depois de Jeff Bezos e Richard Branson terem dado a largada na corrida espacial comercial, voando até a atmosfera superior com apenas algumas semanas de intervalo entre um e o outro, o mercado global de turismo espacial está em franca expansão. Dezenas de empresas oferecem reservas em tudo, desde voos de balão de pressão zero até campos de treinamento de astronautas e voos simulados em gravidade zero.

Mas espere um pouco antes de vestir seu traje espacial. A empresa de serviços financeiros UBS estima que até 2030 o mercado de viagens espaciais estará movimentando US$ 3 bilhões, mas a Administração Federal de Aviação americana ainda não aprovou a maioria das viagens para fora deste mundo, e o primeiro hotel espacial ainda não começou a ser construído. E, embora o acesso e as opções venham aumentando —sem falar nas plataformas de lançamento—, o turismo espacial ainda é astronomicamente caro demais para a maioria das pessoas.

O que pode ser considerado viagem espacial?

A linha Kármán, aceita amplamente como a fronteira aeronáutica da atmosfera terrestre, fica a cerca de 100 km de altitude. É a divisa usada pela Federação Aeronáutica Internacional, que certifica e controla recordes astronáuticos globais. Mas muitas organizações nos Estados Unidos, incluindo a FAA e a Nasa, definem tudo acima de 80 km de altitude como sendo o espaço.

Boa parte da atenção tem estado voltada a um trio de empresas de foguetes comandadas por bilionários: a Blue Origin, de Jeff Bezos, cujos passageiros incluíram o ator William Shatner, de "Jornada nas Estrelas"; a Virgin Galactic, de Richard Branson, onde um voo espacial suborbital custa a partir de US$ 450 mil, e a SpaceX, de Elon Musk, que em setembro lançou um voo espacial apenas civil, sem astronautas profissionais a bordo. Em 2021, o voo inaugural da Virgin Galactic alcançou 85 km de altitude, enquanto a Blue Origin ultrapassa a marca dos 100 km de altitude. Ambas são superadas pela SpaceX, cujos foguetes chegam muito mais longe no cosmos, alcançando altitude de mais de 190 km acima da Terra.

Balões, como o que é operado pela World View, não chegam tão alto. Mas mesmo à sua altitude máxima de 30 km, operadores dizem que os balões flutuam suficientemente alto para que os passageiros possam enxergar a curvatura do planeta e ter a chance de experimentar o efeito de visão geral —uma mudança intensa de perspectiva que, segundo muitos astronautas, ocorre quando uma pessoa enxerga a Terra de cima.

Como chegar lá?

A Blue Origin e a Virgin Galactic, ambas licenciadas pela FAA para oferecer viagens espaciais comerciais, estão abertas para a venda de passagens (a Blue Origin ainda não informou nada sobre seus preços). Ambas as empresas já têm centenas ou até milhares de terráqueos em suas listas de espera para um passeio até a borda do espaço. A SpaceX cobra dezenas de milhões de dólares por seus voos de alcance mais longo e está construindo uma nova planta no Texas que está sob revisão da FAA.

Craig Curran é proprietário da agência de viagens Deprez Travel, de Rochester, Nova York, e entusiasta do espaço; ele tem um lugar reservado desde 2011 num voo da Virgin Galactic. Sua agência tem uma divisão especial para viagens espaciais, a Galactic Experiences by Deprez, por meio da qual Curran vende desde ingressos para assistir a lançamentos de foguetes até treinamentos de astronauta.

Ele admite que é relativamente difícil fechar vendas na área do turismo espacial; as que acontecem são na maioria resultantes de contatos entre pares. "Dá para imaginar que pessoas que gastam US$ 450 mil para ir ao espaço provavelmente vivem em círculos que não são exatamente os mesmos que os seus ou os meus", ele comentou.

Alguns dos produtos mais procurados de Curran incluem voos em que o passageiro pode experimentar a mesma sensação de gravidade zero que os astronautas sentem no espaço, em que a pessoa tem a sensação de seu estômago estar caindo. Ele os organiza para clientes com Boeings 727 especializados, fretados, que voam em arcos parabólicos para imitar a sensação de se estar no espaço. Outros operadores, incluindo a Zero G, também oferecem o serviço, que custa por volta de US$ 8.200.

O número de lançamentos espaciais turísticos completados quase pode ser contado nos dedos de uma mão: a Blue Origin já fez quatro, e a SpaceX, dois. Enquanto isso, a Virgin Galactic anunciou na quinta-feira (5) que o lançamento de seu serviço comercial para passageiros, programado anteriormente para o final deste ano, foi adiado para o início de 2023. Enquanto aguardam a partida, muitas pessoas que estão nas listas de espera se inscreveram para fazer treinamento. A AxiomSpace, que presta serviços à SpaceX, oferece treinamentos em parceria com a Nasa no Centro Espacial Johnson, em Houston. A Virgin Galactic, que já opera um "programa customizado de Preparo para Futuros Astronautas" em suas instalações do Spaceport America, no Novo México, também tem uma parceria com a Nasa para criar um programa de treinamento para astronautas privados.

"Vamos para o espaço a 12 km/h, ou seja, é uma viagem muito suave. Você não está se afastando da Terra num foguete", disse Jane Poynter, co-fundadora e co-CEO da Space Perspective, que está preparando seu próprio balão espacial turístico, o Spaceship Neptune. Se tudo correr conforme o previsto, as viagens no balão devem começar a alçar voo da Flórida em 2024, ao custo de US$ 125 mil por pessoa. É apenas uma fração do custo das passagens da Blue Origin e da Virgin Galactic, mas ainda é mais que o dobro do salário anual médio dos americanos.

A Space Perspective e a World View ainda não ganharam a aprovação da FAA necessária para poderem operar voos.

Implicações singulares

Quer seu meio de transporte seja uma cápsula ou um foguete, no final de 2021 a empresa de seguros de viagem battleface lançou um plano de seguro espacial civil, segundo seu CEO Sasha Gainullin numa resposta direta ao aumento do interesse pelo turismo espacial e a infraestrutura do mesmo. Os benefícios incluem morte acidental e incapacidade permanente no espaço. O seguro é válido para voos espaciais com operadoras como SpaceX, Blue Origin e Virgin Galactic e também para voos em balões estratosféricos. Gainullin disse que a companhia já recebeu vários pedidos de informação, mas ninguém até agora fez o seguro.

"No momento, as pessoas que estão viajando ao espaço têm patrimônio líquido tão alto que provavelmente não precisam de seguro", ele disse. "Mas acho que dentro em breve veremos alguns passageiros ditos comuns comprarem nosso seguro."

Vai querer passar um tempinho?

Entusiastas do espaço insistem que no futuro, as pessoas não vão viajar ao espaço apenas para curtir o passeio. Elas vão querer passar algum tempo lá. A Orbital Assembly Corp., empresa manufatureira cuja meta é colonizar o espaço, está construindo os primeiros hotéis espaciais —duas propriedades em formato de anel que vão orbitar a Terra, chamadas Pioneer Station e Voyager Station. Otimista, a empresa projeta uma data de lançamento em 2025 para a Pioneer Station, que terá capacidade para 28 hóspedes. O projeto da Voyayer Station, que será maior e que a empresa diz que será aberta em 2027, prevê chalés e suítes, além de academia, restaurante e bar. Ambas oferecem o máximo em luxo: gravidade simulada. A Axiom Space, companhia de infraestrutura espacial, está construindo a primeira estação espacial privada do mundo; os planos incluem aposentos projetados por Philippe Starck para os viajantes passarem a noite.

Tradução de Clara Allain

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