Astrônomos investigam 'mistério cósmico' sobre rajadas de ondas de rádio

Desde a sua descoberta, em 2007, os cientistas têm lutado para entender o que causa o fenômeno

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Will Dunham
Washington | Reuters

Poderosas rajadas de ondas de rádio que emanam de uma galáxia anã distante e foram detectadas por um enorme telescópio na China estão deixando os cientistas mais próximos de resolver um chamado "mistério cósmico" que permanece há anos.

Desde a sua descoberta, em 2007, os astrônomos têm lutado para entender o que causa os fenômenos chamados de rajadas de rádio rápidas, que envolvem pulsos de radiação eletromagnética de radiofrequência originários de lugares dentro da Via Láctea e de outras galáxias.

As ondas de rádio têm o comprimento de onda mais longo no espectro eletromagnético. Os astrônomos suspeitam que essas explosões possam ser desencadeadas por certos objetos extremos. Estes podem incluir: uma estrela de nêutrons, o núcleo compacto colapsado de uma estrela enorme que explodiu como uma supernova no final de seu ciclo de vida; um magnetar, um tipo de estrela de nêutrons com um campo magnético ultraforte; e um buraco negro comendo desordenadamente uma estrela vizinha.

Concepção artística para o que seria uma estrela de nêutrons com campo magnético ultraforte, chamado magnetar, emitindo ondas de rádio (em vermelho); cientistas investigam se o magnetar seria o causador do fenômeno chamado de rajadas de rádio rápidas - Reuters

Pesquisadores disseram nesta quarta-feira (8) que detectaram uma explosão de rádio rápida, ou FRB, originária de uma galáxia anã localizada a cerca de 3 bilhões de anos-luz da Terra. Um ano-luz é a distância que a luz percorre em um ano —9,5 trilhões de quilômetros. A massa estelar coletiva dessa galáxia é aproximadamente 1/2.500 avos da nossa Via Láctea.

A FRB foi vista pela primeira vez em 2019 por meio do telescópio FAST na província chinesa de Guizhou, o maior radiotelescópio de prato único do mundo, que possui uma área de recepção de sinal igual a 30 campos de futebol. Ele foi mais estudado com o telescópio VLA no Novo México (EUA).

"Ainda chamamos as explosões de rádio rápidas de um mistério cósmico, e com razão", disse o astrofísico Di Li, da Academia Chinesa de Ciências em Pequim, cientista-chefe do FAST e coautor da pesquisa publicada na revista Nature.

"Rajadas de rádio rápidas são intensas, breves flashes de luz de rádio que são poderosos o suficiente para serem vistos de todo o universo", acrescentou o astrônomo Casey Law, do Caltech, coautor do estudo. "A rajada pisca em cerca de um milissegundo, muito mais rápido que um piscar de olhos. Foram encontradas algumas fontes de FRBs que emitem várias rajadas no que parecem tempestades de atividade, mas outras só foram vistas explodindo uma vez."

A FRB recém-descrita é uma que se repete e também apresenta uma emissão de rádio persistente, mas mais fraca entre as rajadas. Em outras palavras, ela sempre permanece "ligada". A maioria das cerca de 500 FRBs conhecidas não se repetem. A nova se parece muito com outra, descoberta em 2016, que foi a primeira FRB cuja localização foi identificada.

Li observou que inúmeras hipóteses foram oferecidas para tentar explicar essas explosões.

"A abundância de modelos reflete nossa falta de compreensão das FRBs. Nosso trabalho favorece repetidoras ativas que nascem de um evento explosivo extremo, como uma supernova. Essas repetidoras ativas também são jovens, pois precisam ser vistas pouco depois do evento do nascimento", disse Li. ​

Os astrônomos suspeitam que a FRB recém-descrita é uma "recém-nascida", ainda envolta por material denso soprado para o espaço por uma explosão de supernova que deixou para trás uma estrela de nêutrons. Eles disseram que rajadas repetidas podem ser uma característica de FRBs mais jovens, talvez dissipando-se com o tempo.

Descobertas como a FRB recém-descrita podem ajudar os cientistas a determinar a causa dessas rajadas de rádio. Os cientistas anteriormente foram capazes de elaborar uma explicação para a causa de outro fenômeno enigmático —explosões extremamente energéticas chamadas rajadas de raios gama— como originárias da morte de estrelas, fundindo estrelas de nêutrons e magnetares.

"As FRBs cresceram rapidamente para se tornar um exemplo maravilhoso de um quebra-cabeça astrofísico, assim como foram as explosões de raios gama algumas décadas atrás", disse Law. "Sabemos cada vez mais sobre o fenômeno, onde as fontes vivem, com que frequência elas explodem, etc. No entanto, ainda estamos perseguindo essa medição de ouro que nos dará uma resposta definitiva para o que as causa."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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