Idade de fósseis descobertos na África do Sul pode superar a da famosa Lucy, diz estudo

Se análise estiver certa, alguns australopitecos teriam vivido há 3,4 milhões de anos

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São Carlos (SP)

Alguns dos fósseis mais importantes de ancestrais da humanidade, descobertos na África do Sul no século passado, podem ser 1 milhão de anos mais antigos do que se imaginava, afirma um estudo que acaba de ser publicado por uma equipe internacional de cientistas. Se a nova análise estiver correta, alguns dos australopitecos (homens-macacos) achados nas cavernas sul-africanas de Sterkfontein podem ter vivido há 3,4 milhões de anos.

A idade supera a da famosa Lucy, fêmea da espécie Australopithecus afarensis que morreu na Etiópia cerca de 200 mil anos depois.

Os sítios da África Oriental (incluindo o território etíope) e da África do Sul são, de longe, a principal fonte para entender a evolução dos australopitecos, primatas que eram totalmente bípedes (apesar de algumas diferenças em relação à nossa maneira de caminhar), mas ainda tinham dimensões modestas, com até 1,40 m de altura.

Crânio de fêmea de australopiteco da África do Sul - Jason L. Heaton, Birmingham-Southern College, Birmingham, Alabama

Esses hominínios (membros da linhagem mais próxima do homem) também tinham cérebros pequenos, comparáveis aos dos atuais chimpanzés, com cerca de um terço do tamanho do nosso.

As novas datações das rochas de Sterkfontein associadas aos fósseis saíram na última edição do periódico científico PNAS. O trabalho foi coordenado por Darryl Granger, do Departamento de Ciências Atmosféricas, Planetárias e da Terra da Universidade Purdue (EUA), e também participam dele pesquisadores sul-africanos e europeus.

Obter datas confiáveis na região costuma ser um desafio porque o sistema de cavernas de Sterkfontein, formado a partir de um relevo de calcário que mais parece um queijo suíço, produz camadas de rocha que são naturalmente difíceis de interpretar. É preciso levar em conta fatores como os momentos em que a caverna foi influenciada pelas condições ambientais externas ou por águas subterrâneas que influenciaram a composição da rocha –fatores que têm impacto nos métodos de datação por criar uma estratigrafia (sucessão de camadas) extremamente complexa.

O grupo coordenado por Granger fez uma nova análise dessa complexidade estratigráfica, com o objetivo de determinar quais as camadas de rocha realmente associadas à presença dos principais fósseis de australopitecos nas cavernas. Além disso, dataram as amostras de rocha usando um método que mede a transformação de elementos químicos radioativos formados originalmente por bombardeios de raios cósmicos –raios de alta energia que chegam à Terra do espaço.

A chegada dos raios cósmicos, "batendo" nas rochas e formando as variantes químicas radioativas, pode ser comparada ao momento em que um cronômetro é zerado e depois começa a contar o tempo. O "zero", no caso, é a quantidade inicial de elementos radioativos na rocha. Como eles se transformam em outros elementos a uma taxa conhecida, dá para saber quanto tempo o "cronômetro" marcou, vindo daí a idade da rocha e, em tese, a dos fósseis associados a ela.

Se as análises baseadas nisso tudo forem confirmadas, ratificando a avançada idade dos hominínios de Sterkfontein, vai ser preciso repensar as relações que se imaginava existirem entre as diferentes espécies do gênero Australopithecus.

Anteriormente, acreditava-se que o Australopithecus africanus, espécie que predomina em Sterkfontein, poderia descender do Australopithecus afarensis, a espécie de Lucy, que seria mais de 1 milhão de anos mais antiga.

Com o encurtamento da distância temporal entre os dois hominínios, a relação de descendência fica menos crível. Entretanto, isso não significa que o grupo tenha surgido na África do Sul –ao menos por enquanto, há hominínios bem mais antigos de outras espécies, com mais de 4 milhões de anos, na Etiópia.

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