Descrição de chapéu The New York Times genética

'A evolução enlouqueceu': o que torna os dragões-marinhos tão estranhos

Parente dos cavalos-marinhos, espécie tem focinhos compridos e estreitos que usam como um canudo para sugar refeições

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Kate Golembiewski
The New York Times

Entre a coleção de criaturas bizarras do oceano, os dragões-marinhos se destacam. Parentes dos cavalos-marinhos e dos peixes-cachimbo, os dragões-marinhos têm focinhos compridos e estreitos que usam como um canudo para sugar refeições de crustáceos microscópicos. Em vez de escamas, esses peixes são cobertos por uma armadura óssea, e suas espinhas dorsais são torcidas. Como seus primos cavalos-marinhos, os dragões-marinhos machos gestam os ovos fertilizados das fêmeas em bolsas nas caudas.

Eles pertencem a dois grupos de espécies –folhosos e comuns. Os "folhosos" têm apêndices ramificados elaborados que os tornam quase indistinguíveis das algas flutuantes em seu hábitat, no sul da Austrália. Os dragões-marinhos "comuns" são mais aerodinâmicos, mas também mais coloridos, com listras roxas e bolinhas amarelas.

Bill Cresko, da Universidade de Oregon, estuda a genética dos dragões-marinhos para responder a uma pergunta fundamental: ele e seus colegas querem saber como esses peixes chegaram a ser como são.

Imagem mostra animal marinho de cor laranja que remete a um dragão
Imagem do Birch Aquarium mostra dragões-marinhos, parentes dos cavalos-marinhos e dos peixes-cachimbo - Aquário Birch no Instituto de Oceanografia Scripps/NYT

"Somos realmente fascinados por: 'Como é possível existir um organismo parecido com isso? O que mudou no genoma?", disse Cresko.

Um estudo publicado em junho no Proceedings of the National Academy of Sciences tentou responder a essas perguntas. Os pesquisadores sequenciaram os genomas de dragões-marinhos folhosos e comuns e os compararam com os de outros peixes.

A estranha aparência dos dragões-marinhos fez a equipe pensar que poderia ter acontecido algo incomum com seus genes de fator de crescimento de fibroblastos, "que são realmente importantes para o desenvolvimento de coisas como dentes, que eles não têm, ou o formato de rostos ou o crescimento de apêndices, para citar apenas alguns", disse Susie Bassham, pesquisadora do laboratório de Cresko e um dos autores do artigo.

Mas quando eles se concentraram no genoma dos animais ficaram surpresos ao ver que os dragões-marinhos não possuíam vários desses genes-chave para o desenvolvimento.

"Eu realmente não acreditei, no começo", disse Clay Small, outro autor do artigo, também da Universidade de Oregon.

Embora os dragões-marinhos não tivessem esses genes de crescimento, seus genomas estavam repletos de seções repetitivas de código chamadas transposons. Esse tipo de código repetitivo em todo o genoma já foi chamado de "DNA lixo", pois os cientistas não tinham certeza do que ele fazia. Mas os transposons, ou "genes saltadores", são realmente capazes de se cortar de um ponto no código genético e colar em outro, impedindo que outros genes moldem as características de um organismo.

Os pesquisadores não podem dizer com certeza se os genes saltadores são responsáveis pela ausência dos genes do fator de crescimento. Há evidências de repetição do código genético perto dos pontos onde os genes estão faltando, o que pode indicar a atividade do transposon, disse Small. Mas os cientistas precisarão de mais genomas de toda a árvore genealógica dos peixes para confirmar uma relação de causa e efeito.

Além de estudar o DNA do dragão-marinho, a equipe fez tomografias computadorizadas de um dragão-marinho com a mais alta resolução de que eles tinham conhecimento. As imagens de raios X lhes deram informações sobre os apêndices do peixe, que os pesquisadores agora suspeitam que sejam crescimentos espinhosos modificados.

Axel Meyer, pesquisador de dragões-marinhos na Universidade de Konstanz, na Alemanha, disse que o estudo aumenta a compreensão dos planos corporais extremos. "Esta é uma criatura símbolo da exuberância da evolução. É como se a evolução tivesse enlouquecido", disse Meyer, que não participou do estudo. "A diversão de ser um biólogo evolutivo é que você pode estudar esses animais malucos e tentar entendê-los geneticamente."

O DNA do dragão-marinho pode oferecer ideias sobre como conservá-los, diz Cresko, o que é crítico porque eles são raros na natureza e difíceis de manter em cativeiro. Um único peixe pode custar mais de US$ 10.000, e eles se mostraram quase impossíveis de criar.

"Acredite, há muitas pessoas que trabalham comigo que não querem cuidar deles porque dão muito trabalho", disse Leslee Matsushige, que tratou de dragões-marinhos no Aquário Birch no Instituto de Oceanografia Scripps em San Diego durante mais de 20 anos. Os peixes são sensíveis às flutuações de temperatura e luz, exigindo mudanças graduais para imitar o nascer e o pôr do sol. Matsushige até tentou combinar a luz noturna do tanque com as fases da lua.

Apesar das dificuldades, Matsushige disse que é importante que aquários como Birch e o do Tennessee –que forneceram tecidos de dragões-marinhos para o estudo de DNA– encontrem maneiras de ajudar os peixes a se reproduzir. À medida que as mudanças climáticas ameaçam seus hábitats, a sobrevivência dos dragões-marinhos pode depender de programas de reprodução em zoológicos e aquários, por isso é importante "saber o máximo que conseguirmos".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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