Nasa apresentará nesta terça primeiras imagens em cores do telescópio espacial Webb

Foi elaborada uma lista com cinco objetos celestes escolhidos para a estreia do equipamento

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Steve Gorman Joey Roulette
Reuters

Abrindo as cortinas para uma galeria de fotos diferente de qualquer outra, a Nasa apresentará em breve as primeiras imagens coloridas de seu Telescópio Espacial James Webb, um aparelho revolucionário projetado para perscrutar o cosmo até o alvorecer do universo.

A tão esperada revelação, nesta terça-feira (12), de fotos e dados espectroscópicos do observatório recém-ativado se segue a um processo de seis meses de instalação remota de vários componentes, alinhamento de espelhos e calibragem de instrumentos.

Com o Webb agora bem ajustado e totalmente focado, os astrônomos embarcarão numa lista competitivamente selecionada de projetos científicos que exploram a evolução das galáxias, os ciclos de vida das estrelas, as atmosferas de exoplanetas distantes e as luas do nosso sistema solar exterior.
Espera-se que o primeiro lote de fotos, que levou semanas para ser processado a partir de dados brutos do telescópio, ofereça um vislumbre convincente do que o Webb irá capturar em futuras missões científicas.

Concepção artística do Telescópio Espacial James Webb no espaço - Nasa/AFP

A Nasa publicou na sexta-feira (8) uma lista dos cinco objetos celestes escolhidos para a estreia do Webb, construído para a agência espacial dos Estados Unidos pela gigante aeroespacial Northrop Grumman Corp.

Entre eles estão duas nebulosas —enormes nuvens de gás e poeira lançadas no espaço por explosões estelares e que formam berçários para novas estrelas– e dois conjuntos de aglomerados de galáxias.
Um deles, de acordo com a Nasa, apresenta objetos em primeiro plano tão maciços que agem como "lentes gravitacionais", uma distorção visual do espaço que amplia muito a luz que vem de trás deles e expõe objetos ainda mais fracos, mais distantes e mais recuados no tempo. Resta saber quão longe e o que apareceu na câmera.

A Nasa também publicará a primeira análise espectrográfica de um exoplaneta feita pelo Webb, revelando as assinaturas moleculares de padrões de luz filtrada que passa por sua atmosfera. O exoplaneta neste caso, com aproximadamente a metade da massa de Júpiter, está a mais de 1.100 anos-luz de distância. Um ano-luz é a distância que a luz percorre em um ano, 9,5 trilhões de quilômetros.

'Me comoveu como cientista, como ser humano'

Os cinco alvos iniciais do Webb já eram conhecidos pelos cientistas. Um deles, o grupo de galáxias a 290 milhões de anos-luz da Terra conhecido como Quinteto de Stephan, foi descoberto em 1877.

Mas os diretores da Nasa prometem que as imagen s do Webb captam seus objetos sob uma luz inteiramente nova, literalmente.

"O que vi me comoveu como cientista, como engenheira e como ser humano", disse a vice-administradora da Nasa, Pam Melroy, que revisou as imagens, a repórteres durante uma coletiva de imprensa em 29 de junho.


Klaus Pontoppidan, cientista do projeto Webb no Instituto de Ciência do Telescópio Espacial, em Baltimore (Maryland), onde os engenheiros de controle da missão operam o telescópio, prometeu que as primeiras fotos "causarão um 'uau' há muito esperado para os astrônomos e o público".

O telescópio infravermelho de US$ 9 bilhões (R$ 47,3 bilhões), o maior e mais complexo observatório astronômico já enviado ao espaço, foi lançado no dia de Natal da Guiana Francesa, na costa nordeste da América do Sul.

Um mês depois, o instrumento de 6.350 quilos alcançou seu local de estacionamento gravitacional na órbita solar, circulando o sol em sincronia com a Terra a quase 1,6 milhão de km do planeta.

O Webb, que vê seus objetos principalmente no espectro infravermelho, é cerca de cem vezes mais sensível que seu antecessor de 30 anos, o Telescópio Espacial Hubble, que orbita a Terra a 547 km de distância e opera principalmente em comprimentos de ondas ópticas e ultravioleta.

A maior superfície de captação de luz do espelho primário do Webb –uma série de 18 segmentos hexagonais de metal berílio revestido de ouro– permite observar objetos a distâncias maiores, portanto, mais atrás no tempo, do que o Hubble ou qualquer outro telescópio.


Sua sensibilidade ao infravermelho permite detectar fontes de luz que de outra forma estariam ocultas no espectro visível por poeira e gás.

Em conjunto, espera-se que essas características transformem a astronomia, fornecendo o primeiro vislumbre de galáxias "bebês" datadas de apenas 100 milhões de anos após o Big Bang, o ponto de fulgor teórico que acionou a expansão do universo conhecido, há cerca de 13,8 bilhões de anos.

Os instrumentos do Webb também o tornam ideal para procurar sinais de atmosferas potencialmente vitais em torno de dezenas de planetas recém-documentados que orbitam estrelas distantes e observar mundos muito mais próximos da Terra, como Marte e a lua gelada de Saturno, Titã.

Além de uma série de estudos já programados para o Webb, as descobertas mais revolucionárias do telescópio poderão ser as que ainda não foram previstas.

Tal foi o caso da surpreendente descoberta do Hubble, através de observações de supernovas distantes, de que a expansão do universo está se acelerando, em vez de desacelerar, abrindo um novo campo da astrofísica dedicado a um fenômeno misterioso que os cientistas chamam de energia escura.

O telescópio Webb é uma colaboração internacional liderada pela Nasa em parceria com as agências espaciais europeia e canadense.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.