Novas imagens do James Webb vão de nebulosas próximas a galáxias distantes

Com aparelho já foi possível ver como um conjunto de astros era há 13,1 bilhões de anos

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Nebulosa Carina Nasa/AFP

São Paulo

Em uma longa apresentação na manhã desta terça-feira (12), o mundo teve acesso às primeiras observações científicas do Telescópio Espacial James Webb. Indo das profundezas do cosmos a um exoplaneta a mil anos-luz de distância, elas demonstram de forma efetiva o potencial do novo satélite.

A apresentação começou com os confins do Universo, retomando a imagem mostrada no dia anterior em evento na Casa Branca. Batizada de Primeiro Campo Profundo do Webb, ela mirou o aglomerado de galáxias SMAC 0723. A potente gravidade desse conjunto de galáxias a cerca de 5 bilhões de anos-luz de distância gera um efeito de lente que amplifica a imagem de astros ainda mais distantes —pelo menos um deles, destacado pela agência na apresentação, é visto na imagem como era 13,1 bilhões de anos atrás.

Um dos objetivos centrais do Webb é justamente enxergar além do que o Hubble foi capaz, eventualmente detectando as primeiras galáxias a se formarem no Universo. O Big Bang aconteceu há 13,8 bilhões de anos, e o novo telescópio espacial espera ver objetos como eles eram até 13,5 bilhões de anos atrás.

O truque para ver o Universo bebê é possível graças ao fato de que a velocidade da luz, embora muito grande, é limitada. Quanto mais longe está um objeto, mais tempo a luz teve de viajar para chegar até nós, o que significa que temos uma imagem mais antiga dela.

Isso se aplica mesmo a objetos astronômicos mais próximos: quando olhamos para o Sol no céu, nós o estamos vendo como ele era há 8,3 minutos, já que esse é o tempo que a luz emitida lá leva para chegar até aqui, cruzando a distância de 150 milhões de km (ou 8,3 minutos-luz). Quando observamos objetos a vários bilhões de anos-luz de distância, o enxergamos como eles eram há bilhões de anos. E o Webb fará isso melhor que qualquer outro telescópio, não só por conta de seu espelho de 6,5 metros (o maior já lançado ao espaço), mas pelo fato de operar com luz infravermelha (a única disponível para a observação de objetos extremamente distantes, representativos de como era o Universo quando tinha apenas 300 milhões de anos de idade).

A segunda revelação não foi propriamente uma imagem, mas um espectro —a assinatura de luz da atmosfera de um exoplaneta gigante gasoso chamado Wasp-96b, localizado a cerca de 1.150 anos-luz daqui, na constelação da Fênix. Completando uma volta em torno de sua estrela a cada 3,4 dias, ele é um planeta superquente, do tamanho de Júpiter, mas com metade da massa. O espectro colhido pelo instrumento Niriss, um imageador e espectrógrafo de infravermelho, foi obtido ao longo de 6,4 horas de observação.

Foi um recorde imediato: ele já o mais detalhado espectro de infravermelho próximo obtido da atmosfera de um exoplaneta e permitiu identificar a presença de vapor d'água no ar desse mundo gasoso fervilhante. Fica a expectativa para que o Webb, ao longo dos próximos meses, observe exoplanetas rochosos com a mesma técnica, quem sabe confirmando a habitabilidade de algum deles.

A terceira imagem trouxe a nebulosa do Anel do Sul (catalogada como NGC 3132), resultado da morte de uma estrela binária dentro da nossa Via Láctea, a cerca de 2.500 anos-luz daqui. Aliás, foram duas as imagens dessa chamada nebulosa planetária, colhidas com dois dos quatro instrumentos do telescópio. A NIRCam, que "vê" na faixa do infravermelho próximo, e o Miri, que detecta infravermelho médio. O contraste entre as duas visões ajuda a entender a dinâmica ocorrendo no interior da nebulosa, com gás ionizado sendo soprado pelas estrelas quentes no interior, e cascas de gás e poeira externas, criadas pela expulsão das camadas exteriores dos astros centrais, gerando os contornos da nebulosa.

A quarta imagem retratou um espetáculo de cinco galáxias, o Quinteto de Stephan. Trata-se de um grupo de galáxias localizado a cerca de 290 milhões de anos-luz daqui, na constelação do Pégaso. Foi o primeiro grupo compacto de galáxias descoberto, em 1877 pelo astrônomo francês Édouard Stephan, e traz quatro de cinco galáxias travadas em uma dança cósmica de encontros próximos frequentes. A quinta apenas parece estar próxima, mas na verdade está bem mais perto de nós. Na imagem do Webb, é possível ver estrelas individuais na galáxia mais próxima, bem como um sem número de galáxias de fundo.

Para fechar o espetáculo, a Nasa trouxe uma imagem incrível da nebulosa Carina, uma das maiores e mais brilhantes do céu, localizada a cerca de 7.600 anos-luz da Terra. Trata-se de um grande berçário estelar, lar de muitas estrelas de alta massa, bem maiores que o Sol, que já havia encantado o mundo em imagens do Telescópio Espacial Hubble. Agora, com o Webb, a visão traz um novo nível de definição, revelando estruturas que os astrônomos nem sabem ainda explicar o que são exatamente.

Além de apresentar essas primeiras imagens, o evento foi uma grande celebração do sucesso do Webb, projeto conduzido em parceria por Nasa, ESA e CSA (respectivamente agências espaciais americana, europeia e canadense) que consumiu duas décadas e mais de US$ 10 bilhões. Lançado no foguete europeu Ariane 5 em dezembro de 2021, ele passou os últimos seis meses em fase de comissionamento no espaço, preparando seus sistemas para operação plena. A partir de agora, o programa científico começa, e as imagens reveladas com pompa pela agência espacial americana são apenas o começo. Muitas descobertas estão por vir. Estima-se que o telescópio tenha pelo menos 20 anos de combustível para permanecer em funcionamento.

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