Descrição de chapéu Financial Times

Cientistas prometem trazer o lobo-da-tasmânia de volta à vida

Empresa de biotecnologia quer recriar o animal; último morreu num zoológico em 1936

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Nic Fildes
Sidney | Financial Times

O lobo-da-tasmânia (ou tigre) poderá ser reintroduzido na natureza dentro de uma década, quase 90 anos depois de sua extinção. Uma empresa de biotecnologia dos Estados Unidos, apoiada pelos gêmeos Winklevoss, prometeu recriar o animal.

O último tilacino, o nome oficial do lobo-da-tasmânia que era o principal predador da ilha australiana, morreu num zoológico em Hobart em 1936. A população silvestre do grande marsupial carnívoro foi exterminada por pecuaristas e pelo governo local, que pôs uma recompensa pelo animal durante o século 19 para proteger ovelhas.

Avistamentos não confirmados da criatura listrada e parecida com um cachorro vagando pelo deserto da Tasmânia aumentaram seu mito e geraram esperanças de que o animal tivesse sobrevivido de alguma forma.

Lobo-da-tasmânia em foto de um cartão-postal no zoológico em Hobart, na Tasmânia - Harry Burrell /Wikimedia

"É como o nosso monstro do lago Ness", disse Andrew Pask, professor e biólogo evolutivo da Universidade de Melbourne, que dirige o Laboratório de Pesquisa em Restauração Genética Integrada do Tilacino (TIGRR na sigla em inglês), que recriou o genoma do animal.

O laboratório de Pask vai colaborar com a Colossal Biosciences, resultado do trabalho de George Church, professor de Harvard que foi um dos criadores do Projeto Genoma Humano. A empresa já está trabalhando para recriar um mamute lanoso como parte de seu plano de "desextinção".

A empresa com sede em Dallas arrecadou US$ 75 milhões e foi apoiada por investidores, incluindo capitalistas de risco do Vale do Silício, os irmãos Cameron e Tyler Winklevoss e Chris Hemsworth, ator que interpreta o Thor da Marvel.

A Colossal espera converter os processos de edição de genes que usará no tilacino e no mamute para uso comercial em humanos.

Pask disse que as técnicas e recursos de edição de genes que a Colossal poderá levar para o projeto do tilacino acelerariam a reconstrução do animal, que foi discutida pela primeira vez como uma possibilidade na década de 1990.

"Não é uma questão de se, mas quando isso pode acontecer", disse ele, prevendo que animais vivos poderiam ser criados dentro de uma década.

Ben Lamm, cofundador da Colossal, disse que um tilacino deve ser mais fácil de recriar do que um mamute, devido à maior qualidade de amostras genéticas disponíveis e à facilidade com que um embrião –inicialmente do tamanho de um grão de arroz– pode ser gestado em laboratório usando animais substitutos e bolsas artificiais.

"É altamente possível que o tilacino nasça antes do mamute", disse ele.

No entanto, o processo de edição será mais complexo, pois a árvore genealógica do tilacino é mais complicada que a do mamute. A aparência canina do animal é enganosa, pois é um marsupial. Sua relação mais próxima é uma pequena criatura parecida com um camundongo chamada dunnart de cauda gorda, que poderá ser o substituto improvável para o renascimento do lobo-da-tasmânia.

Pask disse que o trabalho técnico para trazer de volta o tilacino também ajudaria a evitar a extinção de outros animais por desastres naturais, como incêndios florestais ou mudanças climáticas, numa época em que até o coala foi colocado na lista de ameaçados de extinção.

"O biobanco está acontecendo, mas não temos tecnologia para regenerar espécies. Este projeto pode entregar isso. Poderíamos recriar cem coalas ou quolls [um marsupial carnívoro] em laboratório", disse ele.

Euan Ritchie, professor de ecologia da Universidade Deakin em Melbourne, disse que recriar um tilacino seria uma "grande conquista científica".

Mas ele permaneceu pessimista sobre o desafio de não apenas recriar um animal extinto, como restabelecer uma população funcional capaz de se sustentar. "Se não podemos, então você tem que perguntar por que estamos fazendo isso. Torna-se um pouco como "Jurassic Park", disse Ritchie.

Ele acrescentou que a ênfase precisa ser na conservação de animais em perigo de extinção. "É muito mais barato e mais eficaz mantê-los vivos do que ressuscitar populações do congelador", disse ele.

A potencial reintrodução de tilacinos na Tasmânia, entretanto, não foi universalmente bem-vinda. Segundo Pask, alguns criadores de ovelhas já manifestaram preocupação. Mas ele acrescentou: "Eles nem comem ovelhas".

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