O megalodonte era maior, mais rápido e ainda mais faminto do que se imaginava

Estudo sugere um animal de 15 metros de comprimento e 67 toneladas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Asher Elbein
The New York Times

Cinco milhões de anos atrás, imensos tubarões predadores patrulhavam os oceanos. Seus dentes gigantes —deixados para trás em sedimentos costeiros— inspiraram o nome de 1843 que desde então se tornou uma palavra familiar: megalodonte.

Apesar da fama do tubarão com megadentes, no entanto, o tamanho e a forma exatos do megalodonte têm sido motivo de discussão. Como os esqueletos de tubarões são em grande parte feitos de cartilagem, eles raramente se fossilizam, o que leva os pesquisadores a fazerem estimativas muito variadas —de 10 a 18 metros— usando dentes caídos e comparações com parentes vivos como tubarões-cavala e o grande tubarão-branco.

Mas a nova modelagem 3D do tubarão, publicada nesta quarta-feira (17) na revista Science Advances, sugere que o megalodonte pode ter sido um animal maior, mais rápido e mais disseminado do que se pensava anteriormente.

Em 2014, Catalina Pimiento, paleontóloga da Universidade Swansea, no País de Gales (Reino Unido), conheceu John Hutchinson, anatomista do Colégio Real de Veterinária, em Londres. Hutchinson é especialista em modelagem computacional de animais extintos. Os dois acabaram se juntando a uma equipe de colaboradores para construir um modelo de computador de megalodonte em 3D, baseado em parte em varreduras de uma espinha preservada descoberta na década de 1860 e mantida no Instituto Real de Ciências Naturais da Bélgica. Eles também usaram dentes de megalodonte e uma varredura de corpo inteiro de um grande tubarão-branco, o análogo vivo mais próximo do megalodonte.

Representação gráfica do megalodonte, extinto tubarão de dentes imensos - J. J. Giraldo/The New York Times

O modelo resultante sugeriu um animal de 15 metros de comprimento e 67 toneladas, quase tão grande quanto um tubarão-baleia. É possível que outros megalodontes fossem ainda maiores, disse Pimiento; existem outras vértebras fossilizadas que são 50% maiores do que as usadas no modelo, sugerindo um comprimento máximo de 20 metros, maior que uma baleia jubarte moderna. As mandíbulas do modelo de megalodonte podiam se abrir o suficiente para devorar uma orca de 8 metros em apenas cinco mordidas.

Quão confiável é essa modelagem computacional?

"Essas reconstruções funcionam muito bem quando aplicadas a animais vivos cuja massa conhecemos, então parecem estar certas em geral", disse Hutchinson. Isso é verdade especialmente dadas as variações naturais de tamanho entre os animais individuais.

Mas alguns pesquisadores apontam que o modelo se baseia em suposições sobre megalodontes que não foram confirmadas no registro fóssil.

"O tamanho e a forma de outros componentes do esqueleto, como o crânio, as mandíbulas e todas as barbatanas permanecem especulativos", disse Kenshu Shimada, professor de paleobiologia da Universidade DePaul, em Chicago.

Se o modelo da equipe for preciso, entretanto, isso tem implicações sobre a velocidade de cruzeiro dos enormes predadores —a rapidez com que um animal vai do ponto A ao ponto B— e seu apetite. A equipe descobriu que os megalodontes poderiam atingir uma velocidade de cruzeiro de aproximadamente 5 km/h, disse Pimiento, muito mais rápido do que os outros 33 tubarões pesquisados. Entre os tubarões existentes, a maior velocidade de cruzeiro é a do tubarão-salmão, que pode atingir cerca de 3,2 km/h.

Como o grande tubarão-branco, mais lento, pode viajar quase 11 mil quilômetros sem parar para aproveitar as presas sazonais, argumentou a equipe, o megalodonte provavelmente poderia ir muito mais longe. Na verdade, teria que fazê-lo para se manter alimentado. Embora os restos fósseis do Peru tenham mostrado que o megalodonte ocasionalmente caçava focas, o "grande tamanho corporal e as demandas energéticas potenciais do tubarão sugerem que ele precisaria de presas altamente calóricas, como baleias", disse Pimiento.

Nos ecossistemas modernos, apontou Hutchinson, grandes animais migratórios desempenham um papel importante no fluxo de nutrientes —depositados em esterco ou carcaças— em todo o mundo. Como um superpredador transoceânico, o megalodonte provavelmente desempenhou um papel semelhante nos ecossistemas oceânicos dezenas de milhões de anos atrás, quando os níveis do mar eram pouco mais altos do que são hoje.

Mas os predadores de ponta são frequentemente vulneráveis a um mundo em mudança. Na era Pliocênica, o aumento do gelo nos polos levou a frequentes mudanças no nível do mar e à perda de importantes habitats em alto mar. Um evento de extinção que o acompanhou levou a um declínio nas grandes presas, provavelmente forçando o megalodonte a competir diretamente com tubarões menores, como o grande branco. O último dos enormes predadores desapareceu há 3 milhões de anos.

"Seria seguro supor que sua extinção teve impactos em escala global nas redes alimentares de cima para baixo", disse Pimiento.

O modelo da equipe sugere, portanto, que o megalodonte não era apenas fisicamente maior do que se supunha anteriormente; provavelmente também desempenhou um papel maior nos sistemas oceânicos, deixando-os mais pobres —embora mais seguros— à sua passagem.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.