Tudo levava a crer que o Telescópio Espacial James Webb, lançado no fim de 2021 e cujas primeiras descobertas foram apresentadas ao mundo neste ano, seria capaz de enxergar mais longe que o Hubble, mas ninguém imaginou que seria tão depressa.
Logo na primeira bateria de observações, o telescópio encontrou a galáxia mais distante já vista.
Seu "desvio para o vermelho" (lembre-se, a luz vai se "avermelhando", com esticamento do comprimento de onda, ao viajar por grandes distâncias) foi estimado em 12,5, o que equivalia a dizer que estávamos vendo a galáxia Glass-z12 como ela era quando o Universo tinha apenas 350 milhões de anos. Hoje, ele tem 13,8 bilhões de anos, o que dá a medida de como o telescópio espacial está mergulhando nos segredos do passado cósmico.
Detalhe: esse era só o começo. Um novo trabalho, divulgado no início de dezembro e ainda passando pelo processo de revisão por pares, fez um mergulho com o Webb na região que gerou a imagem mais profunda do Universo obtida pelo Hubble, e já encontrou outra recordista: uma galáxia com desvio para o vermelho 13,2, o equivalente a 330 milhões de anos após o Big Bang.
E mais: não são achados isolados. Há muitas galáxias com desvio para o vermelho comparável (entre 10 e 13 até o momento), em tão poucas observações, o que já faz os cientistas reverem suas expectativas sobre como foi a infância do Universo. Até então, o modelo cosmológico padrão sugeria que não deveria haver tantas galáxias já maduras e brilhantes assim nessa época remota. Como explicá-las? Os cosmólogos ainda não sabem. Mas está claro que as respostas só virão graças ao poder observacional sem precedentes do James Webb.
A composição de exoplanetas
Mais perto de casa, o telescópio espacial tem feito observações sem precedentes da atmosfera de exoplanetas, mundos que orbitam outras estrelas que não o Sol.
Em suas observações iniciais, o Webb já obteve os mais precisos espectros (termo técnico para descrever a "assinatura de luz") de uma atmosfera exoplanetária. Ao ser apontado para Wasp-39b, um mundo do porte de Saturno em uma órbita mais apertada em torno de sua estrela, encontrou a primeira evidência de fotoquímica —reações produzidas pela radiação estelar— já vista em um exoplaneta. O planeta parece ter nuvens esparsas, em vez de um cobertor denso e uniforme dela, e tem dióxido de enxofre em sua atmosfera, molécula produzida graças à luz ultravioleta que emana da estrela-mãe.
O cenário é o mais interessante possível para o futuro da pesquisa de exoplanetas com o Webb, conforme o telescópio é apontado para mundos que podem ser amenos à vida —assunto que certamente será abordado nos próximos anos, possivelmente já em 2023.
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