Descrição de chapéu The New York Times África

Cientistas descobrem pegadas parecidas de dinossauros em Brasil e Camarões

Marcas sugerem que animais podem ter percorrido corredor que conectava os dois continentes

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A imagem mostra duas impressões de pegadas de dinossauros em rochas. À esquerda, a pegada é mais profunda e detalhada, enquanto à direita, a pegada é mais rasa. Há uma régua de escala de 6 cm ao lado da pegada à esquerda, indicando o tamanho das impressões.

Pegadas de terópodes na Bacia de Koum, em Camarões - Southern Methodist University / The New York Times

Alexandra E. Petri
The New York Times

Elas podem estar separadas por um oceano, mas pegadas de dinossauros encontradas na América do Sul e na África são tão semelhantes que sua descoberta sugere que os dinossauros podem ter percorrido um corredor estreito que conectava os dois continentes antes de se separarem.

Pesquisadores encontraram mais de 260 pegadas a mais de 6.000 quilômetros de distância no Brasil e em Camarões, preservadas em lama e silte onde rios e lagos antigos existiam, de acordo com um estudo publicado na última segunda-feira (26) pelo Museu de História Natural e Ciência do Novo México. Entre os autores do trabalho está o paleontólogo Ismar de Souza Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

As pegadas foram feitas há 120 milhões de anos, quando a África e a América do Sul ainda estavam conectadas como parte de um supercontinente chamado Gondwana, descobriram os pesquisadores.

Segundo o estudo, o planalto da Borborema, no nordeste brasileiro, e a bacia de Koum, no norte camaronês, contêm estruturas geológicas semelhantes que preservaram as pegadas.

As marcas descobertas nessas áreas eram semelhantes em idade, forma e contexto geológico, disse Louis L. Jacobs, paleontólogo da Universidade Metodista do Sul no Texas e autor principal do estudo.

A imagem mostra uma pedra com a forma de um coração esculpido na superfície. A pedra está localizada em um ambiente natural, com grama verde ao redor e um fundo de terra. A luz reflete na pedra, destacando sua forma e textura.
Pegada de dinossauro na bacia de Sousa, na Paraíba - Ismar de Souza Carvalho/The New York Times

Não é surpreendente fazer descobertas semelhantes em regiões que antes estavam conectadas, segundo o pesquisador. Mas as pegadas, segundo ele, ajudam a entender a história geológica de uma região que se separou há milhões de anos.

O artigo mostra um "lugar específico, em um tempo específico e com condições climáticas e ambientais específicas", que pode ajudar a demonstrar como os animais podem ter se movido pela faixa de terra entre Camarões e Brasil antes da separação de Gondwana, de acordo com Jacobs.

O paleontólogo disse que sua pesquisa começou em Camarões no final da década de 1980, quando uma equipe de pesquisadores, da qual fazia parte, descobriu ossos de dinossauros, ossos fossilizados de mamíferos e pegadas de dinossauros. Ele revisitou as descobertas recentemente quando o Museu de História Natural e Ciência do Novo México quis publicar um volume dedicado ao também paleontólogo Martin Lockley, que morreu em novembro após uma carreira estudando pegadas de dinossauros.

Jacobs trabalhou com uma equipe internacional para determinar a idade das pegadas que ele havia encontrado anteriormente em Camarões, estudando as rochas em que estavam preservadas. Eles então analisaram registros de pegadas de dinossauros no Brasil, onde os continentes estavam anteriormente unidos e onde Jacobs sabia que havia pegadas.

A maioria das pegadas foi criada por terópodes carnívoros de três dedos, que tendiam a ser bípedes. Algumas também foram feitas por saurópodes de pescoço longo ou ornitísquios, uma superfamília diversificada de herbívoros, de acordo com Diana P. Vineyard, pesquisadora associada na Universidade Metodista do Sul e coautora do estudo.

"A geologia começou a parecer muito semelhante", disse Jacobs. "Até mesmo as estruturas que mostravam como os continentes se separaram eram contínuas diretamente do Brasil para Camarões."

A equipe também analisou um modelo paleogeográfico da Terra, que incluía topografia e vales fluviais presentes na época, e um modelo climático de 120 milhões de anos atrás. Os sedimentos também continham pólen fóssil com cerca de 120 milhões de anos ou mais, de acordo com o artigo.

As pegadas de dinossauros ajudam a contar a história do nosso mundo atual, disse Jacobs.

"As pegadas de dinossauros te dizem coisas que os ossos não dizem", afirmou ele. "Mostra como eles se moviam, onde se moviam, se se moviam sozinhos ou com outros. É uma maneira diferente de olhar para o passado porque há informações diferentes contidas nas pegadas."

Segundo Emese Bordy, da Universidade da Cidade do Cabo, não era inesperado encontrar as pegadas deixadas por terópodes datando desse período. A sedimentóloga pesquisa paleoambientes do sul de Gondwana e não esteve envolvida no estudo.

"Embora a presença desses tipos de fósseis nessa localização não seja surpreendente, o fato de terem sido preservados é extraordinário", disse Bordy, que em 2020 publicou um estudo sobre dezenas de pegadas deixadas por dinossauros e outras criaturas no que hoje é a África do Sul antes da separação de Gondwana.

"Todo trabalho geológico está interconectado e, ao refinarem o contexto geológico desta área remota na África, os autores ajudam a resolver uma peça do quebra-cabeça da história da Terra africana, o que contribui para nossa compreensão da história de Gondwana e, em última análise, da história da Terra", afirmou Bordy.

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