Alexandra Forbes

Jornalista, escreve sobre gastronomia e vinhos há mais de 20 anos. É cofundadora do projeto social Refettorio Gastromotiva e autora de livros de receitas.

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Alexandra Forbes

Gim novo no pedaço

Marca criada por pernambucano chega a bares de Rio e São Paulo

Mês novo, gim novo. Acaba de chegar a bares como Guarita e Guilhotina, em São Paulo, e ao Fasano, no Rio, o Savvy, marca criada pelo pernambucano Sérgio Marques. Mais um gim?!, pensei ao abrir a bela garrafa anos 20 com tampa de vidro para provar um golinho. Mas terá lugar para mais uma marca no mercado?

Que o gim explodiu no Brasil a gente já sabe. Tem até pesquisa comprovando. Foi votado como destilado favorito de 34% dos 900 paulistanos e cariocas das classes A e B entrevistados pela agência Llorente & Cuenca. Vodca, uísque e cachaça ficaram em segundo, terceiro e quarto lugares, respectivamente.

Como toda onda, logo trouxe com ela investidores querendo surfá-la. De repente no Brasil –onde praticamente nunca se fabricou gim– começaram a lançar um gim atrás do outro: Amazzoni, Arapuru, Beg, Draco, Virga, Jungle, Minna Marie, Vitória Régia, Torquay… A maioria faz marketing em cima da brasilidade, incluindo desde cacau e cajú a puxuri e castanha do Pará na receita.

Gim Savvy chega a bares de São Paulo e Rio de Janeiro
Gim Savvy chega a bares de São Paulo e Rio de Janeiro - Leo Feltran/Divulgação

Gim é uma mistura de ervas, raízes, sementes, cascas de cítricos curtidas em álcool e destiladas. O único aromático obrigatório é o zimbro, especiaria amarga. Comparando marcas às cegas dá para distinguir entre cinco estilos: floral, “spicy” (especiarias), herbáceo, cítrico e clássico (com o zimbro sobressalente). Conseguir identificar aromas e sabores específicos é difícil até para o mais rodado dos barmen, a não ser que… o gim seja feito de álcool de cana.

Os gins nacionais capricham nas histórias: exóticas misturas de múltiplos aromáticos garimpados Brasil afora, alambiques “hand-made”, água cristalina, etc. Mas evitam mencionar o álcool base. Muitas vezes usam álcool de cana ao invés de cereais como reza a tradição e aí nota-se o cheirinho de cachaça. Certas marcas fazem pior: envelhecem a bebida em barricas de madeiras como a amburama, que deixa tudo com gosto e cheiro de… amburana!

Marques cresceu em terra canavieira mas não caiu na armadilha de fazer um gim de cana. Nem quis ser mais um a exaltar a flora brasileira para vender seu gim. Faz o Savvy em Portugal sem inventar muito no mix aromático, sabendo que gim bom é aquele que dá um dry martini e um gim tônica deliciosos sem dominar. Ele quer 15% do mercado nacional até 2019. Gim para isso ele tem, mas como diz um velho amigo meu, gim é 20% álcool e 80% marketing…

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