Alexandra Forbes

Jornalista, escreve sobre gastronomia e vinhos há mais de 20 anos. É cofundadora do projeto social Refettorio Gastromotiva e autora de livros de receitas.

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Alexandra Forbes

Febre de Borgonha

Vinhos chegam a ser vendidos por 100 mil euros a garrafa

Garrafas de vinho Romanée-Conti
Garrafas de vinho Romanée-Conti - Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem

Minha amiga Carol e eu tivemos a imensa sorte de sermos recebidas nesta semana no fechadíssimo e mítico Domaine de la Romanée-Conti, na Borgonha, cujos vinhos chegam a ser vendidos por € 100 mil (R$ 453 mil) a garrafa. Apesar de supercaros, os vinhos são tão desejados que só uma minúscula parte dos aficionados consegue comprá-los. Raras lojas de vinho os têm à venda. Achamos uma no diminuto vilarejo onde fica o Domaine. Quando Carol indagou os preços, a camponesa retrucou: “Quem é você?”. Desconfiada, custou a revelar seu pequeno tesouro. “Recebo apenas 18 garrafas por ano e, por isso, só vendo uma por cliente e… depende muito do cliente”.

Nada na Borgonha vem fácil. Essa região francesa, que fica entre Lyon e Dijon, subdivide-se em montes de apelações, cada uma composta por uma infinidade de miniterrenos de nomes complicados classificados por nível de qualidade. Um exemplo? O Bienvenues-Batard-Montrachet (bem-vindo, bastardo Montrachet) faz fronteira com o Les Pucelles (As Virgens). O primeiro é um grand cru e o segundo, um premier cru (um nível abaixo). As famílias que produzem os melhores vinhos da região (Rousseau, Roulot, Ramonet etc.) quase não recebem visitantes e vendem seus estoques para clientes que já conhecem –a demanda é muito superior à oferta.

Simples, né? E, no entanto, apesar das denominações emaranhadas e da inacessibilidade dos viticultores mais reputados, de dez anos para cá, a Borgonha virou coqueluche entre aficionados. A cada ano, 1,5 milhão de turistas visitam suas adegas, e o preço médio por garrafa não para de subir. Entre os fãs mais conhecedores e apaixonados estão os brasileiros. Neste ano, surgiu mais uma importadora em São Paulo, a Juss Millésimes, do ex-craque de futebol Jussiê Vieira. Sua especialidade? Borgonhas! “Os produtores que visito ficam espantados”, diz. “Não entendem como, em um país sem tradição vinífera como o nosso, pode haver tanta gente apaixonada e superentendida." 

Seus clientes preferem os Borgonhas caros e famosos. Eu busco o contrário: os vizinhos dos famosos, que saem por uma fração do preço, mas têm a mesma qualidade. Às favas, Romanée-Conti! Vou-me daqui com a mala cheia de tesouros de € 20 a € 50 (R$ 91 a R$ 226) por garrafa. A Borgonha recompensa copiosamente os que se dedicam a desvendá-la.

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