Alexandra Forbes

Jornalista, escreve sobre gastronomia e vinhos há mais de 20 anos. É cofundadora do projeto social Refettorio Gastromotiva e autora de livros de receitas.

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Quem ainda aguenta papo de alta gastronomia?

O termo gourmet perdeu o sentido original e tornou-se vago e cafona

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Resposta rápida: eu, não! Minha primeira coluna na Folha, publicada em maio de 2011, falava da crescente onda de chefs fazendo pop-ups, ou restaurantes efêmeros. Começava assim: "Em um domingo, a garota com ar de agente secreta distribuía passes de metrô na Oitava com a 14, em Nova York e as pessoas que chegavam davam seus nomes. O grupo desceu até a estação e entrou em um vagão rumo ao Brooklyn. Surgiram garçons de gravata-borboleta e luvas que montaram mesas e ofereceram água: 'com gás ou sem, senhor?'. Iniciou-se um surreal almoço. Seis serviços foram embarcados, um a cada parada".

Esse pop-up guerrilheiro e absolutamente original foi o mais divertido dos tantos de que ouvi falar desde então. Impossível não achar divertido aquele jantar doidão sobre trilhos. Ao longo dos anos voltei a escrever na Folha sobre pop-ups de chefs. Só que não tinham nem a metade da graça ou da audácia do happening no metrô. Como os chefs-organizadores eram famosos e premiados eu concluíra, tolamente, que suas iniciativas marqueteiras eram absolutamente relevantes. Achava que eram notícia, sinceramente. Pffff!

Desde então muita água passou debaixo da ponte. Em 2014, levei um pito do meu pai. "Pare de escrever sobre Alex Atala, René Redzepi e outros personagens do seu mundinho gastronômico, ninguém está interessado nesses cozinheiros além de você e sua turminha". Bufei. Fiz cara feia e protestei: "escrevo para jornal há 23 anos, acha que não sei fazer o meu trabalho?" Blablablá. Na real, foi um soco na cara necessário. Dias depois a Folha publicou minha primeira coluna atacando a agroindústria e questionando porque o McDonald's, que acabara de abolir nos Estados Unidos os ovos de galinhas criadas em gaiolas, não fizera o mesmo no Brasil. A bronca paterna me fez abrir o leque. Parei de focar apenas no universo de ar rarefeito da alta gastronomia que eu tinha entendido —à força!— ser inacessível e desinteressante para a grande maioria dos leitores.

A jornalista e crítica gastronômica Alexandra Forbes
A jornalista e crítica gastronômica Alexandra Forbes - Reprodução

Passei a alternar o high e o low, tendências da alta gastronomia e outras pé no chão: a abolição dos canudos plásticos, os vinhos naturebas, a "churrasquização" da gastronomia, o surgimento dos coquetéis engarrafados, etc. Mas —mea culpa!— também segui escrevendo, anos a fim, sobre o que eu via e comia nos grandes restaurantes do mundo, nos famosos Noma, Eleven Madison Park, Osteria Francescana e tal. Afinal de contas, era o que meus editores tinham pautado quando estreara na Folha. Os mesmos editores que batizaram minha coluna de "A Gourmet"...

Pois "A Gourmet" morreu. Aliás, o termo gourmet perdeu o sentido original e tornou-se vago e cafona. Eu mudei. A Folha mudou. Os chefs famosos e estrelados mudaram. O mundo mudou. A defunta coluna impressa renasce aqui, hoje. Digital e desgourmetizada. Os chefs famosos não serão banidos —até porque muitos deles abriram restaurantes mais baratos, ou politizaram-se e resolveram ajudar-nos a salvar o planeta do efeito estufa, do plástico que sufoca os oceanos e do desperdício alimentar. Ou foram fazer outras coisas legais fora de seus templos gastronômicos caríssimos e inacessíveis à maioria. Ou tudo isso junto, como no caso do italiano Massimo Bottura. Descer do salto, não desceram, mas estão se abrindo cada vez mais para o mundo que existe aqui fora.

Esperem de mim, daqui em diante, papo reto. Menos alta gastronomia. Mais comida de verdade, mais conversa franca e descomplicada sobre vinhos —essa nova e avassaladora paixão brasileira— e mais simplicidade. E de vocês espero perguntas, críticas, ideias, provocações e sugestões... agora a coluna é digital e o monólogo virou diálogo. Três, dois, um... partiu! A caixa de comentários é toda sua.

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