Alexandra Forbes

Jornalista, escreve sobre gastronomia e vinhos há mais de 20 anos. É cofundadora do projeto social Refettorio Gastromotiva e autora de livros de receitas.

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Lamentável? Preocupante? Triste? O que dizer dos bares lotados no Leblon?

Tem brasileiro que acaba com o Brasil

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O que dizer da invasão das ruas da zona sul do Rio de Janeiro na quinta-feira (2) à noite por farristas irresponsáveis aglomerados em torno de bares? Lamentável? Preocupante? Triste? Adjetivo nenhum faz jus. Que tragédia! Todo idiota que bebe e conta piada com amigos na rua e sem máscara põe em risco a vida dos outros.

Mas há outra tragédia nessa história que é menos evidente, porém tão grave quanto. Que os bares e restaurantes do Brasil estão sofrendo como nenhum outro setor da economia, já se sabe. Falências, demissões… O quadro é desolador!

Calçadas do Leblon lotadas no primeiro dia de abertura dos bares e restaurantes no Rio
Calçadas do Leblon lotadas no primeiro dia de abertura dos bares e restaurantes no Rio - Reprodução

Quando uma prefeitura libera a abertura de bares e acontece uma barbaridade como a que vimos, o tiro sai pela culatra. Como é que o pateta que bradava “vai tomar no cu, máscara, e vai tomar no cu, corona!” na frente de um bar lotado no Leblon não pensou que aquela farra teria consequências? Criou um problemão não só para o bar onde ele estava mas para bares e restaurantes do Rio como um todo.

Desde meu primeiro chope no Bracarense, ainda adolescente, sempre ouvi —e pensei!— que os cariocas amam seus botecos. Mentira. Se esses que causaram baderna na quinta amassem mesmo seus bares favoritos teriam tido a decência de sair para tomar um trago civilizadamente, chegando de máscara e fugindo de multidões.

Preferiram chutar o pau.

O mais triste disso tudo é que os cariocas que atrapalharam o trânsito e se esparramaram pelas calçadas da zona sul de chope em mãos atrapalharam a vida de centenas de milhares de cariocas civilizados.

Donos de bares que ignoraram as novas regras, ficando abertos até muito mais tarde do que o permitido, eles também, botaram seus colegas em maus lençóis. Por causa de uma minoria inconsequente a reabertura dos lugares no Rio agora será mais tensa e mais policiada. Nesta fase tão difícil ninguém precisava de mais problema —mas a cegueira coletiva de alguns milhares de cariocas criou um novo.

O SindRio —Sindicato de Bares e Restaurantes— divulgou nota de repúdio. “O que se viu em alguns bairros da zona sul carioca não corresponde ao trabalho sério e comprometido de todos os empresários que abriram suas portas para receber seus clientes dentro da legalidade e com todos os protocolos. Uma classe inteira não pode ser prejudicada pela falta de cooperação de uma pequena parcela da população, estimulada ainda pela presença ilegal e maciça de ambulantes e bancas de jornal abertas vendendo cervejas.”

Pois prejudicada já está… E o ato de incivilidade dos baderneiros —que são minoria, repito— respingará até em outros estados. Irá amedontrar prefeitos que ainda não liberaram a reabertura de bares e restaurantes.

Pelo que tenho visto e ouvido a respeito da gestão de Bruno Covas, acho que ele saberá dar rédea aos paulistanos mas a mantendo mais curta do que no Rio. Empresários do setor estão furiosos com as restrições impostas pelo protocolo de retomada consciente assinado por ele —especialmente por terem que fechar as portas às 17h.

Detesto ter que dizer isso mas a verdade é que sempre há algumas maçãs podres no cesto, então há mesmo que se precaver. Se oito paulistanos irão para a rua civilizadamente sem causar aglomerações e usando máscara, haverá dois que não pesam as consequências de uma bebedeira grupal e sem cautela.

Aos egoístas que descumpriram regras esta semana no Rio como se nada fosse e fizeram troça das medidas de precaução, eu digo: parabéns, vocês estão impedindo o Brasil de sair do buraco. Aos cidadãos de São Paulo —inclusive donos de bares descontentes— eu clamo: aceitemos a reabertura restrita como uma transição necessária.

Basta nos comportarmos com civilidade que logo as restrições cairão, uma por uma. Semana que vem, não deixemos que máscaras, mesas espaçadas e álcool em gel nos tirem o gozo do primeiro almoço ou drinque com amigos fora de casa. É só repetirmos o mantra: vai passar, vai passar, vai passar.

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