Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

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Aos mestres, mais do que carinho

Além do reconhecimento simbólico, os professores merecem bons salários, carreira e boas condições de trabalho

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Esta é a semana em que reverenciamos nossos professores. Prêmios, matérias especiais na mídia, a já tradicional “jornada do herói”, com casos daqueles que superaram condições adversas e “viraram o jogo”.

Do ponto de vista simbólico tudo isso é muito importante. E necessário, especialmente em um país onde a educação ainda não é um valor. Mas será que é suficiente? Certamente não.

Para além do reconhecimento simbólico, bons salários, carreira e condições de trabalho adequadas são o que efetivamente comprovam o valor que a sociedade dá a seus educadores.

E este valor gera ainda mais valor: todas as pesquisas realizadas nos últimos anos sobre o tema, da insuspeita consultoria McKinsey a diversos acadêmicos espalhados pelo mundo, demonstram alta correlação entre a qualidade do ensino e seus docentes. 

Homenagem ao Dia dos Professores
Homenagem ao Dia dos Professores - Stock.Adobe

Mas será que há algo em comum nos sistemas educacionais bem-sucedidos em relação à sua política para os profissionais da educação? 

Para tentar responder a esta questão, a pesquisadora Linda Darling-Hammond, da universidade de Stanford, liderou recentemente uma pesquisa em sete sistemas educacionais de alta performance —Finlândia, Singapura, a província chinesa de Shangai, as províncias canadenses Alberta e Ontário e as províncias australianas de New South Wales e Victoria.

Além dos bons resultados, esses sistemas têm em comum o desafio de educar um grupo cada vez mais diverso de crianças, dados os efeitos da migração.

Os resultados do ponto de vista das políticas para os professores não divergem muito das boas práticas de qualquer organização de ponta: (i) uma boa política de atração e recrutamento dos melhores profissionais, (ii) formação inicial que possibilita um contato com a prática real, (iii) mentoria e apoio dos profissionais mais experientes aos recém-chegados, (iv) garantia de aprendizagem contínua ao longo da carreira, (v) oportunidades de desenvolvimento profissional, formação de lideranças e avaliações e devolutivas constantes aos educadores sobre sua prática. 

Em todos esses sistemas o respeito pelos professores é expresso em pesquisas de opinião pública, nas ações dos governos e nos salários. Os salários iniciais estão acima da média internacional, são competitivos em seus países e há aumentos importantes ao longo da carreira.

Enquanto isso, no Brasil, parafraseando Caetano Veloso, “a indefinição é o regime”. 
Temos um piso nacional de professores, mas não garantimos aos municípios recursos para que consigam honrá-lo.

A evolução dos profissionais se dá por mecanismos exclusivamente burocráticos, como tempo de serviço e títulos acadêmicos.

Alguns estados, como São Paulo, aplicam um teste de conhecimentos que acelera a evolução na carreira, o que não está previsto em nenhum manual de recursos humanos dos anos 1950…

A formação inicial dos professores brasileiros prevê um estágio obrigatório que na esmagadora maioria das vezes é de cumprimento burocrático, enquanto nas melhores faculdades de pedagogia do mundo é um dos principais eixos da formação, com clínicas e supervisão em grupos pequenos, de um para no máximo 10 alunos. 

Em nosso país a formação continuada, quando é oferecida, muitas vezes não é coerente com o currículo ou com as necessidades dos profissionais em sala de aula.

Recentemente o Conselho Nacional de Educação teve a boa iniciativa de propor uma Base Nacional Docente, que precisa ser aperfeiçoada.

Garantir um mínimo de 3.200 horas de curso e propor uma matriz de competências (o que deve ser ensinado) são bons avanços.

A previsão de residência docente também vai na direção correta, mas é necessário que se definam as regras de supervisão. Sem isso, a residência pedagógica corre o risco de se transformar no atual estágio docente, com outra denominação. 

Mas o mais grave é a omissão do parecer em relação ao Ensino à Distância. Ao não definir um teto para a formação à distância, abrimos a porta para sua ampliação indiscriminada.

Não gostaria de ir à mesa de cirurgia com um médico que aprendeu a maior parte de seu ofício à distância. Bons professores se formam na prática. Investimento alto, mas necessário.

Se queremos mudar a educação no Brasil, é preciso ir além do discurso e colocar nossas melhores cabeças ao lado dos profissionais da educação e repensar sua formação, redesenhar suas carreiras e, sim, sua remuneração.

É difícil em tempos de crise e com estados quebrados pensar em políticas dessa natureza. Mas um país que debelou a hiperinflação tem capacidade de sonhar com isso.

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