Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

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Você e seu filho não têm a menor ideia do que ele será quando crescer

Um caminho para a educação do futuro é investir em novas modalidades de ensino técnico

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Se você tem filhos pequenos, esqueça de perguntar a eles o que desejam ser quando crescerem.

Praticamente todas as referências que eles e nós temos à disposição para responder a essa questão deixarão de existir quando eles chegarem lá.

O mundo passa hoje por transformações sem paralelo no tempo. Não são novidade as imagens de máquinas em linhas de produção executando tarefas até recentemente destinadas aos humanos.

O uso de "big data" e de algoritmos avança em ritmo veloz, transformando a economia, direcionando nossos desejos de consumo e até mesmo nossas escolhas políticas e eleitorais. 

As máquinas, que nas revoluções industriais anteriores serviam de apoio à ação humana, hoje são capazes de "aprender" e substituí-la integralmente.

O estudante deve ser capaz de adaptar-se a mudanças
O estudante deve ser capaz de adaptar-se a mudanças - pololia - stock.adobe.com

É o tempo dos carros autônomos e do uso da inteligência artificial na saúde, no sistema financeiro, na organização das grandes cidades, nas decisões de investimentos e em uma série de outras atividades, mudando a economia e provocando uma alteração sem precedentes no mercado de trabalho. 

Sabemos que um grande número de empregos deixará de existir. Mas não somos capazes de prever quais surgirão. 

Tudo isso provoca um grande desafio para a educação, que é o de preparar os estudantes para serem capazes de continuar aprendendo ao longo da vida, adaptando-se às mudanças cada vez mais rápidas, na sociedade e no mundo do trabalho.

No Brasil, teremos uma árdua tarefa pela frente. Se pudéssemos voltar ao ano de 2006 para acompanhar um grupo de cem crianças de seis anos, veríamos que 90 delas concluiriam os anos iniciais aos 12 anos, 76 os anos finais aos 16 anos e 64 chegariam ao fim do ensino médio aos 19 anos. Desses, 13 chegariam à universidade.

Nosso ensino básico, portanto, é uma corrida de obstáculos em que muitos vão ficando pelo caminho, na qual apenas 20% dos poucos estudantes que chegam até seu final seguem adiante, no ensino superior.

Ao mesmo tempo em que devemos garantir que todas as crianças estejam na escola aprendendo, é preciso garantir melhores oportunidades para a enorme massa de jovens que não pretende cursar a universidade. 

Esse caminho se dá investindo em novas modalidades de ensino técnico, utilizando duas premissas. De um lado, entendendo o ensino técnico como parte de um itinerário formativo contínuo, como parte da formação, não como “ponto final”. Por que um técnico em edificações, que possui o certificado nos conselhos de engenharia e pode assinar plantas de imóveis de até 120m2 e dois pavimentos quando entra em um curso de engenharia, é obrigado a realizar o mesmo percurso de um estudante do ensino médio regular?

De outro lado, é necessário articular em um mesmo projeto as secretarias de educação nos estados, responsáveis pelo ensino médio e muitas vezes pelo ensino técnico, o setor produtivo e as universidades, para que desde o ensino médio o estudante possa optar por uma formação profissional que lhe faça sentido e que seja valorizada no mercado de trabalho.

No Brasil existe uma experiência inovadora em andamento. Batizado de Itinerário Contínuo, envolve uma parceria entre a secretaria estadual de educação da Bahia, Universidade Federal do Sul da Bahia e o Itaú BBA Educação.

Essa experiência propõe uma continuidade real entre o ensino médio e o ensino superior, envolvendo tanto o currículo como a prática educacional.

Concretamente, trata-se de um curso técnico de agroindústria com foco na cadeia produtiva do cacau e do chocolate, que terá continuidade direta no curso superior de Agroindústria, ofertado pela Universidade Federal do Sul da Bahia. 

O aluno que cursar esse técnico poderá dar continuidade à sua formação na universidade sem que haja repetição ou sobreposição de conhecimentos.

Em geral, o que ocorre é justamente o contrário: na passagem de curso técnico para o superior de uma mesma área, o aluno refaz um conjunto de disciplinas que repetem os mesmos conhecimentos já vistos no curso técnico.

Essa experiência na Bahia inova, primeiramente, por colocar universidade e secretaria de educação trabalhando juntas desde o ensino médio, construindo um curso com mais sentido e menos sobreposições de conhecimentos aprendidos.

Depois, por atender à real possibilidade do jovem e construir um itinerário que sempre apresente novas aprendizagens, sem repetições desnecessárias e, acima de tudo, por incentivar a continuidade da formação dos jovens e apontar um caminho.

O trabalho do futuro exigirá pessoas que tenham capacidade de aprender sempre. Se antes a universidade era o caminho para um titulo, que garantia saberes pétreos, hoje ela é uma etapa na formação das pessoas, assim como o ensino técnico e todos os cursos de especializações, mestrados profissionalizantes, qualificações profissionais e outras inúmeras possibilidades de formação que precisam estar disponíveis para que tanto os jovens como os adultos possam seguir se formando sempre e fazendo frente às exigências de um mundo em transformação.

Nós certamente não temos uma pista do que nossos filhos serão quando crescerem. Mas não temos o direito de não prepará-los para serem o que quiserem ao longo da sua vida adulta.

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