Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

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Descrição de chapéu Eleições 2020 senado

O seu candidato prioriza a aprendizagem dos alunos?

O que diferencia um líder de um bom realizador de tarefas é a capacidade de investir no longo prazo

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Divulgados na semana passada, os resultados do Índice Nacional de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb), que mede a qualidade da educação do Ensino Fundamental e Médio no Brasil, não surpreenderam.

Seguiram a tendência recente, com os estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental mantendo a dinâmica de crescimento, os anos finais estagnados e uma discreta melhora no ensino médio, em alguns casos não suficiente para garantir o mesmo despenho já alcançado no passado.

O Brasil tem cerca de 27 milhões de estudantes entre o primeiro e o nono ano do ensino fundamental. Destes, mais de 15 milhões estão matriculados em escolas municipais. Em outras palavras, as secretarias de educação municipais são responsáveis pela garantia da aprendizagem na idade certa de mais da metade dos estudantes brasileiros de 6 a 14 anos.

Em ano de eleições municipais, precisamos ficar de olho em algo mais além da frase “a educação será prioridade em meu governo”.

Garantir educação pública de qualidade para todos é tarefa para mais de uma gestão. Mas é possível, em uma gestão, alcançar ganhos na área e lançar as bases para que esta seja uma conquista que garanta melhorias contínuas no tempo.

O primeiro passo é estabelecer uma meta para a alfabetização dos estudantes. A última avaliação nacional de alfabetização disponível é de 2016. Seu resultado foi desastroso: 54,73% dos estudantes do 3º ano do ensino fundamental tinham nível insuficiente em leitura, ou seja, eram incapazes de identificar a finalidade de um texto e localizar uma informação explícita. No caso da escrita, 34% dos estudantes não eram capazes de escrever palavras de maneira alfabética.

Há diversas experiências recentes bem sucedidas no Brasil de políticas de alfabetização. A cidade de Sobral, no Ceará, há muitos anos colocou como meta a alfabetização de todas as crianças no primeiro ano do ensino fundamental. Um engenhoso sistema que envolve o início do processo no final da educação infantil, com acompanhamento das atividades de escrita e leitura de todos os estudantes e o uso da gravação da leitura em voz alta deu à cidade excelentes índices de alfabetização.

A cidade de São Paulo, usando um método distinto, teve êxito em seu programa de alfabetização. Como noticiou esta Folha em dezembro de 2018, a cidade redesenhou a formação de coordenadores pedagógicos e professores alfabetizadores, passou a acompanhar mensalmente o desenvolvimento dos estudantes, estabeleceu uma meta mais arrojada que a do Ministério da Educação e, sobretudo, procurou apoiar e envolver os profissionais na busca dos resultados.

Como resultado desse esforço coletivo, a cidade deu um salto nos resultados. Em 2016, 84% dos estudantes sabiam ler e escrever no terceiro ano do ensino fundamental. Já no ano de 2018, 92% dos alunos sabiam ler e escrever no segundo ano. A mesma rede pública foi capaz de alfabetizar uma proporção mais alta de alunos, um ano mais cedo.

Nos anos finais do ensino fundamental também temos bons exemplos em cidades de tamanhos distintos. A cidade de São Paulo, que vinha de quedas sucessivas de desempenho nessa etapa desde 2013 obteve o maior crescimento dos estados e municípios no IDEB em 2019, recém divulgado. Teresina, no Piauí, vem sucessivamente se firmando como a capital de melhor desempenho no país.

Outra cidade que merece destaque é a de Caruaru, em Pernambuco. Assim como São Paulo e Teresina, Caruaru melhorou seu Ideb em 2019. Contando com um extenso território, escolas rurais e urbanas, o grande desafio da cidade era manter todos os estudantes na escola, aprendendo.

A prefeitura lançou um programa denominado “Aluno Presente”, que envolveu o acompanhamento dos estudantes, comunicação com os pais e o envolvimento das escolas e dos centros de assistência social. Os servidores da educação passaram a visitar as casas dos alunos mais infrequentes.

Com as visitas, a Secretaria de Educação foi capaz de ter um diagnóstico mais preciso sobre as causas de abandono escolar e agir sobre elas. Essas medidas levaram o Ideb de Caruaru a crescer mais de 20% entre 2017 e 2020, com a redução das reprovações e o aumento da aprendizagem.

As experiências citadas têm, entre si, características de gestão comuns, ainda que os números de Caruaru e São Paulo sejam o início de uma caminhada em relação aos de Teresina e Sobral, mais consolidados: a criação de um programa coeso e coerente, com um pequeno número de metas, o apoio da liderança do Executivo, o conhecimento do território, o envolvimento ativo dos servidores de carreira, o foco na aprendizagem dos estudantes, a busca de experiências inspiradoras e a sua adaptação à realidade local.

O que diferencia um líder de um bom realizador de tarefas que lhe são demandadas é sua capacidade de projetar o futuro e colocar parte de suas fichas em projetos sustentáveis no longo prazo, cujas recompensas nem sempre estão ao alcance dos olhos. Se a educação é importante para você, pense nisso antes de escolher em quem vai votar

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