Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

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Alexandre Schneider

O que queremos dos nossos professores?

Em comparação a outros países, há diferenças significativas na contratação de docentes e em suas atribuições

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Nossos professores acreditam em seu papel transformador na vida de seus estudantes e da sociedade, têm orgulho de sua profissão e são realizados profissionalmente. Mais de dois terços deles, no entanto, sentem que sua profissão não é respeitada no Brasil e que as políticas públicas voltadas a eles não os valorizam.

Estes são alguns dos resultados da recente pesquisa "Valorização da Carreira Docente: um olhar sobre os professores", do Instituto Península. O mesmo instituto realizou uma série de pesquisas durante a pandemia com professores de todo o Brasil. A principal conclusão da última delas é a de que quase 60% deles gostariam de receber apoio psicológico e emocional neste momento.

Para além da percepção dos professores sobre necessidades de apoio e valorização, é preciso olhar para fatores estruturais.

Professora dá aula em escola pública de São Paulo - Rivaldo Gomes - 25.out.2021/Folhapress

Os pesquisadores Gabriela Moriconi, Nelson Gimenes e Luciana Leme nos dão algumas pistas em uma análise comparada sobre o volume de trabalho dos professores no Brasil, Estados Unidos, França e Japão, países com desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) próximos da média alcançada pelos estudantes dos diversos países que realizam a prova e sistemas educacionais que lidam com complexidades mais próximas das brasileiras.

Os autores encontraram diferenças significativas no modelo de contratação de professores e em suas atribuições que impactam diretamente nas suas condições de trabalho.

No Brasil, as escolas funcionam em turno parcial, nos demais países elas são em turno único. Como os professores americanos, japoneses e franceses assumem outras atribuições além da docência (como a mentoria de alunos, supervisão ou até mesmo atividades extracurriculares), a regra é a de trabalhar em uma única escola.

Já no caso brasileiro, com escolas funcionando geralmente em dois turnos e a atribuição de aulas aos professores baseada na distribuição das mesmas em cada turno, para cumprir sua jornada o docente precisa lançar mão de trabalhar em mais de um colégio ou etapa de ensino.

Desta forma, enquanto os demais são contratados por tempo integral para uma única escola,
os professores brasileiros são contratados para "fornecer um conjunto de aulas", segundo os autores. Aliado à possibilidade de mais de um vínculo contratual, os profissionais brasileiros acabam responsáveis por um número mais elevado de turmas e de alunos, em muitos casos mais de 400 estudantes distribuídos em mais de uma unidade escolar.

Esta situação estrutural, que envolve a organização escolar, do currículo e das carreiras, prejudica enormemente os professores e os estudantes, uma vez que torna difícil a dedicação exclusiva do docente a uma única comunidade escolar, o que permitiria ao grupo de profissionais da escola conhecer melhor a comunidade com a qual trabalham, planejar e intervir pedagogicamente de acordo com as especificidades dos estudantes.

Os caminhos possíveis para a mudança são de complexidades distintas, especialmente em momentos de desafio fiscal.

É preciso cumprir a lei do piso para que parte da jornada dos professores seja dedicada à sua formação e garantir condições para que este seja dedicado à formação e trocas qualificadas como seus pares. Em relação à remuneração, deve-se buscar outra lei que caiu no esquecimento, o Plano Nacional de Educação, que prevê a equiparação do rendimento médio dos professores ao dos profissionais com escolaridade equivalente.

Além de cumprir a lei –algo que no Brasil por vezes é um ato revolucionário–, é preciso que se criem condições para os professores tenham um único e exclusivo contrato de trabalho, de preferência em apenas uma escola. Esta medida não é algo possível no curto prazo, mas deve ser nosso horizonte.

Para cumpri-la é necessário redesenhar as atuais carreiras do magistério, reorganizar as redes de ensino e seus currículos, para que a regra seja o profissional trabalhar em uma única escola, não a exceção.

Não é possível dissociar as condições de aprendizagem dos estudantes das condições de trabalho dos seus professores. A melhoria das condições de trabalho dos profissionais da educação, por seu turno, é a chave para a sua real valorização e para a garantia de uma educação de qualidade para todos. Não é diferente nas melhores redes de educação do mundo, não haveria de sê-lo aqui.

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