Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

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O ensino médio entre um passado ruim e um futuro incerto

Precisamos de uma escola que nos prepare para aprender ao longo da vida, dentro e fora dos ambientes formais de aprendizagem

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Crianças e jovens que estão na escola hoje vivem em um mundo que passa por transformações sem precedentes em diversas dimensões. A economia passa por uma nova revolução, com a transformação permanente das relações trabalhistas e a destruição e criação de postos de trabalhos em uma velocidade sem precedentes. A desigualdade está aumentando.

A questão climática ganha contornos dramáticos. As fontes de informação se fragmentam e os algoritmos das redes sociais nos reúnem em tribos digitais onde não há espaço para o contraditório ou à reflexão. A coesão social sofre estresse, motivada pela combinação desses fatores e pela sensação de que os frutos da democracia liberal não brotaram como o prometido.

No meio desse processo navega uma instituição da antiguidade: a escola. Não apenas navega, mas é o desaguadouro de todas as contradições existentes nesse processo. Além do desafio de lidar com toda essa complexidade, ela deve —como nos alerta a OCDE em seu documento Educação 2030— preparar cidadãos capazes ler o mundo, prontos para ocupações que ainda não foram criadas, que saibam utilizar tecnologias ainda não inventadas e lidar com problemas ainda não antecipados.

alunos protestam contra aulas a distância em escolas estaduais do Paraná
Alunos protestam contra aulas a distância em escolas estaduais do Paraná e falha no novo ensino médio - Acervo pessoal

Precisamos de uma escola que nos prepare para aprender ao longo da vida, dentro e fora dos ambientes formais de aprendizagem. Além de uma base sólida de conhecimentos disciplinares, o ambiente de aprendizagem deve apoiar e motivar os estudantes a construir seus próprios projetos, conectando as diversas experiências de aprendizagem entre si e com o mundo que os cerca, em colaboração com seus colegas, professores e com a própria comunidade a qual pertencem.

O novo ensino médio dialoga com essas preocupações ao estruturar uma base curricular que procura abrir possibilidades de escolha dos estudantes de acordo com seus interesses, articular seus projetos de vida e aprofundar seus conhecimentos a partir de seus interesses. Todavia, há dois desafios importantes, um do ponto de vista pedagógico e outro da equidade educacional.

Do ponto de vista pedagógico é importante que o novo ensino médio seja implementado nas escolas com um sistema de mentoria e apoio aos estudantes para que melhor construam suas trajetórias e não se percam diante de um volume grande de oportunidades de aprendizagem diversificada, para além da BNCC.

Como estamos tratando de diversas competências importa aqui o currículo em ação, ou seja, a forma com que o currículo se efetiva na escola, com que se organiza o processo pedagógico para a garantia da conexão entre os componentes curriculares e dos objetivos de aprendizagem propostos.

Nesse sentido é fundamental investir na formação dos profissionais da educação para que sejam capazes de romper com a tradição conteudista, que privilegia a maior cobertura possível de tópicos curriculares em detrimento da aprendizagem em profundidade de um conjunto de saberes essenciais e do desenvolvimento de competências e habilidades que permitam aos estudantes navegar em um mundo complexo e em transformação.

Para além das questões pedagógicas, existe um desafio relativo à garantia da equidade. Mais da metade dos municípios brasileiros têm apenas uma escola de ensino médio. Como garantir a escolha dos estudantes? Mesmo onde há maior oferta de equipamentos escolares, há um problema de desequilíbrio de titulação dos profissionais, com uma oferta maior de professores das áreas de humanas do que nas demais.

Por fim, há desigualdades de oportunidades. A forma de organização das escolas privadas e das públicas difere e pode impactar nas oportunidades de aprendizagem dos estudantes. Enquanto uma escola privada pode contratar um professor especialista para ministrar eletivas (ex. Astronomia, finanças etc) a escola pública se organiza a partir da jornada do professor e dependerá de sua carga horária disponível —dividida com as aulas de disciplinas tradicionais— e de seu interesse para que a eletiva seja ofertada.

Nenhuma dessas questões é uma barreira intransponível, mas se não forem observadas, certamente a implementação do novo ensino médio ampliará a vergonhosa desigualdade educacional que marca o Brasil.

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