“A gente resolve na Baixada”, gritou o prefeito de Japeri, Carlos Moraes (PP), ao chegar à Cidade da Polícia. Ele havia sido preso por suspeita de envolvimento no tráfico de drogas, fraude em licitações e desvio de dinheiro público em favor de bandidos. A frase foi uma ameaça aos jornalistas que acompanhavam sua prisão: “Imprensa corrupta”, acusou o político, fazendo uso de vasto repertório de palavrões.
A cena se deu na semana passada e, por mais absurda, não é novidade. Há 60 anos, a Baixada Fluminense —antes uma periferia desolada que com o tempo passou a abrigar populosos núcleos urbanos— é um filme de bangue-bangue em terra de ninguém.
Japeri ocupa a 83ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano, entre os 92 municípios do estado. A população vive silenciada e sob o jugo, inclusive nas eleições, de traficantes como Breno de Souza, que tinha 14 mandados de prisão e se relacionava amigavelmente com o prefeito boca suja e intimidador, conforme revelaram gravações da polícia.
A partir dos anos 1960 a Baixada ficou tristemente famosa como cenário de crimes de execução, sendo o primeiro deles o do rio Guandu, ainda na época do governo Carlos Lacerda: policiais de esquadrões da morte desovavam corpos no rio, cujas águas abasteciam e ainda abastecem os lares cariocas.
Em sua época de repórter policial, Aguinaldo Silva denunciou os homicídios na região, reportagens corajosas publicadas em veículos da imprensa alternativa como Opinião e Movimento. Depois, como autor da novela “Senhora do Destino”, conseguiu a façanha de mostrar Nova Iguaçu no horário nobre. Aguinaldo fez mais pela Baixada do que muito político.
O vereador Cláudio da Silva está preso. O presidente da Câmara Municipal de Japeri, Wesley de Oliveira, também. A inteligência da intervenção na segurança deve olhar com mais atenção os chamados agentes públicos. Em todas as esferas.
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