Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva
Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Primeiro os meus santinhos

A máquina pública a serviço de um projeto de poder

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, durante evento oficial
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, durante evento oficial - Yasuyoshi Chiba - 19.jun.17/AFP

Usar a máquina pública para favorecer grupos religiosos, como faz Marcelo Crivella, é grave. Mas não espanta. Faz parte de um rasteiro, mas eficiente, projeto de poder. 

O Café da Comunhão foi o ato mais memorável da administração Crivella até agora: 250 pastores reunidos, fora da agenda oficial, no Palácio da Cidade. Aos irmãos, o prefeito pregou: “Nós temos de mudar o país. É esse Brasil evangélico que vai dar jeito na pátria”.

Ao oferecer cirurgias de catarata e de varizes aos fiéis, Crivella escandiu as palavras —“ca-ta-ra-ta”, “va-ri-zes”— como se estivesse num púlpito e anunciasse uma revelação divina. Ao seu lado, estava Rubens Teixeira, pastor da Assembleia de Deus, ex-diretor da Transpetro investigado pela Lava Jato e pré-candidato a deputado federal pelo PRB. 

Braço político da Igreja Universal, a sigla integra o centrão que apoia a candidatura Alckmin à Presidência. Fez 106 prefeitos em 2016, entre os quais Crivella, que recebeu 1,7 milhão de votos no vácuo deixado pelo MDB no Rio. Na reunião secreta, ele instruiu os pastores a procurar o “doutor Milton” na hora de acertar a isenção de IPTU para imóveis que abrigam igrejas.

Quando não está trabalhando pelo avanço de pautas conservadoras —proibição do aborto, mesmo para os casos legalmente previstos, e proibição da discussão sobre gêneros—, a bancada do partido em Brasília (21 deputados e dois senadores) atua pela manutenção de privilégios como isenção tributária e concessões de TVs e rádios.

No combate à corrupção, o rigor não é o mesmo. Marcos Pereira, o presidente do PRB, é bispo da Igreja Universal, foi vice-presidente da TV Record e ministro de Temer. Está no rol da Lava Jato, acusado de receber propina de Joesley Batista em troca de linhas de financiamento na Caixa Econômica. Mas nem liga: já está confeccionando os santinhos da campanha a deputado federal.
 

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