Cientistas políticos veem semelhanças entre os principais personagens das eleições de 1989 e as de agora. Eis a analogia, num jogo de espelhos: Collor (Bolsonaro); Lula (o próprio, depois Haddad); Brizola (Ciro); Maluf (Alckmin); Mario Covas (Marina); Afif Domingos (Amoêdo); Aureliano Chaves (Meirelles). No departamento das desistências midiáticas, um Silvio Santos valeria um Luciano Huck. Para o bem ou para o mal, Ulisses Guimarães e Enéas ficam sem pares. Assim como cabo Daciolo, legítimo produto do Brasil safra 2018.
Naquele ano realizaram-se as primeiras eleições presidenciais diretas após o fim do regime militar. José Sarney acumulava altos índices de impopularidade, como Temer hoje. Lula passou para o segundo turno numa contagem apertada. Com rejeição no teto, perdeu para Collor, candidato que, havia motivos para se acreditar, poderia ter sido derrotado por Brizola. (Alguma relação com o cenário atual?)
De lá para cá, muita água rolou debaixo da ponte: o primeiro impeachment, os oito anos de FHC, as quatro vitórias do PT, o avanço da Lava Jato, as grandes manifestações, a ruína econômica, o segundo impeachment, a prisão de Lula. Tudo resulta em divisão e desgaste políticos maiores que os de 1989. Para piorar, convivemos atualmente com o jogo sujo das redes sociais.
O novo é o protagonismo de um vice que até ontem usava farda. Depois da facada, o general Mourão resolveu mostrar a verdadeira cara. Enquanto bancava o pensador eugenista do século 19, elencando negros e índios como fatores de atraso para o país, não era levado a sério. Mas agora ele propõe uma Constituinte formada por notáveis que não precisariam ser eleitos. Na mesma linha, Bolsonaro volta a falar em fraude no processo eleitoral, sem apontar um fato concreto.
Tem um pessoal que não gosta de eleição, gosta de golpe. Golpe travestido de lei e ordem.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.