Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Mentir aos mentirosos

Editor nos tempos do Império, Paula Brito ensina ao país de hoje

Acaba de sair um livro sobre um enorme personagem do Brasil Império. Um editor, jornalista, contista, dramaturgo, tradutor e letrista de música que, passados mais de 200 anos de seu nascimento, continua a dar lições ao país.

Mulato, de origem modesta, aos 15 anos Francisco de Paula Brito (1809-1861) começou a aprender o ofício de tipógrafo na Imprensa Nacional. Em sua própria editora, estabelecida em 1832 no antigo Rossio (atual praça Tiradentes, no Centro do Rio), fez o primeiro jornal dedicado ao público feminino, A Mulher do Simplício ou A Fluminense Exaltada. Também lançou o periódico O Homem de Cor, que lutava contra o preconceito racial.

Ao todo, publicou mais de uma centena de jornais, revistas e “marmotas” e cerca de 400 livros e folhetos, praticamente inventando para o leitor da época a literatura brasileira. Entre seus autores, destacavam-se Joaquim Manuel de Macedo, Casimiro de Abreu, Martins Penna, José de Alencar, Machado de Assis. Aliás, publicou o primeiro texto assinado, o poema “Ela”, do adolescente Machadinho, que mais tarde afirmaria: “Paula Brito foi o primeiro editor digno desse nome que houve entre nós”.

Sua livraria foi o berço da Sociedade Petalógica, nome curioso que escolheu para reunir os amigos —entre os quais o romancista Manuel Antônio de Almeida e até o imperador dom Pedro 2º— em permanente debate público e brincalhão. Na gíria, o significado de “peta” era mentira, história falsa, logro. As fake news de hoje. 

Recém-lançado, o ensaio “Corpo sem Cabeça” (Editora UFMG), de Bruno Guimarães Martins, apresenta transcrições desses encontros performáticos. As mentiras eram tomadas como verdadeiras, gerando tantas gargalhadas que acabavam caindo em descrédito. Uma tática e uma dinâmica que servem perfeitamente para a atualidade: “Contrariar os mentirosos, mentindo-lhes”. 

Capa do livro 'Corpo sem Cabeça', de Bruno Guimarães Martins
Capa do livro 'Corpo sem Cabeça', de Bruno Guimarães Martins - Reprodução
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