Hoje, de espontâneo, a internet só tem os vídeos fofos de gatinho. Esta é a opinião do cientista político P. W. Singer, que acaba de publicar um livro no qual analisa a influência das mídias sociais em recentes eleições mundo afora. Em entrevista à Folha, Singer comentou as táticas desenvolvidas por empresas para manipular o fluxo de informações com notícias falsas que potencializam o medo na hora do voto, situação usada por líderes populistas nos Estados Unidos, Reino Unido, Filipinas e (como óbvio, menos para o TSE) no Brasil.
Agora entendo a crise por que passou um velho companheiro de pelada. Durante a campanha presidencial, para evitar brigas com amigos, namorada e família, ele pensou em largar o smartphone. Viciado em clicar, não conseguiu. Refugiou-se então no maravilhoso mundo da fofura em imagens: lêmures, guaxinins, esquilos, ursos, corujas, raposas, coelhos, cães, gatos, cães brincando com gatos —esta a combinação preferida dele.
Acabou descobrindo uma página que exibe interminável galeria fotográfica de escritores com seus felinos de estimação: Bukowski, aparentemente sóbrio, acariciando com ternura a cabeça do bichano; Guimarães Rosa segurando dois filhotes no colo; Georges Perec equilibrando o animal em cima do ombro e roçando a barbicha no rabo dele; Truman Capote "cheek to cheek" com um siamês; Reinaldo Moraes ensinando o pulo da gata.
Uma coisa leva a outra. Meu amigo adquiriu novo vício. Passou a devorar contos, romances e estudos cujos protagonistas são gatos: "O Gato de Botas", de Perrault; "O Gato Preto" de Poe; "Gato na Chuva", de Hemingway; "Offenbach", de Cabrera Infante; "Orientação dos Gatos", de Cortázar; "Sete Vidas", de Heloisa Seixas; "Eu Sou Um Gato", de Natsume Soseki; "As Horas Nuas", de Lygia Fagundes Telles; "Sobre Gatos", de Doris Lessing.
Hoje ele mal abre o zap.
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