Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Olho neles

As relações entre poder e imprensa nas ditaduras da Venezuela e da Nicarágua

Ao publicar em 1997 a novela “Asco”, o escritor e jornalista hondurenho Horacio Castellanos Moya esteve no centro de um vulcão patriótico. Ameaçado de morte, teve de deixar El Salvador, onde vivia desde os quatro anos. Não era a primeira vez que largava o país: fugindo da guerra civil, havia se exilado no Canadá. Depois morou e trabalhou na Costa Rica, México, Espanha, Alemanha, Japão. Atualmente é professor de literatura na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. 

“Asco” é um esgar de raiva: “Fica claro para qualquer pessoa minimamente instruída que os políticos deste país têm a capacidade de leitura muito atrofiada, na hora em que vão falar você nota que há muito tempo eles não exercem sua capacidade de leitura”. E: “Não importa se são de direita ou de esquerda, são de vomitar, igualmente corruptos, igualmente ladrões”. Tipos bem reconhecíveis, pois não?

Em recente entrevista ao jornal Perfil, da Argentina, Castellanos Moya disse que, hoje, o poder da ficção é inofensivo. Tanto que o alvo mudou: “A repressão está de olho nos jornalistas, para impedir que eles investiguem a maneira pela qual os políticos roubam e matam”. 

Nicaraguense segura cartaz com os retratos dos jornalistas Miguel Mora (no alto) e Lucía Pineda
Nicaraguense segura cartaz com os retratos dos jornalistas Miguel Mora (no alto) e Lucía Pineda - Ezequiel Becerra/AFP

El Confidencial, jornal de oposição ao presidente Daniel Ortega na Nicarágua, teve sua Redação invadida em meados deste mês. Na sexta (21) a ditadura nicaraguense —que já matou nas ruas mais de 500 pessoas, entre as quais uma estudante brasileira— fechou o canal 100% Noticias e prendeu sua diretora, acusada de “terrorismo”. Na Venezuela chavista, após 75 anos de circulação, o diário El Nacional deu fim a sua edição impressa. Desde 2013 mais de 115 meios de comunicação fecharam no país de Maduro. 

No Brasil a imprensa está na berlinda, sofrendo ataques do presidente eleito. O guru do governo prega nas redes sociais: “O jornalista é o maior inimigo do povo”. Stálin não diria melhor, e a turba vai atrás, com milhares de curtidas. 
 

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