Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Alvaro Costa e Silva

Extremos desequilibrantes

Que língua fala o técnico da seleção?

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O técnico da seleção brasileira, Tite, durante entrevista à imprensa em Praga, em março deste ano
O técnico da seleção brasileira, Tite, durante entrevista à imprensa em Praga, em março deste ano - Michal Cizek/AFP

O poeta e cronista Paulo Mendes Campos gostava de futebol, e mais ainda do Botafogo. De tanto acompanhar o time de Garrincha, Didi e Nilton Santos, ele desenvolveu a tese segundo a qual a Semana de Arte Moderna não havia chegado ao jornalismo esportivo. 

Paulinho vivia recolhendo exemplos: “Adentra o tapete verde o facultativo esmeraldino a fim de pensar a contusão do filho do Divino Mestre, mola propulsora do elevem periquito”. Ou seja: o médico do Palmeiras entrara em campo para atender o craque Ademir da Guia.

O jargão de hoje é tão intragável quanto o dos tempos de Antônio Cordeiro e Raul Longras, mas sem a graça involuntária. Fulano é importante porque “verticaliza” a jogada. Sicrano sabe fazer a “leitura” da partida. Beltrano é “diferenciado”. Faltam “peças de reposição”. Num jogo da seleção, ouvi um comentarista dizer: “Tem que entrar um jogador que pense por ele e pelos outros”. Ora, nem Didi nem Gérson, os meias mais cerebrais do futebol brasileiro, seriam capazes de tal façanha.

As besteiras revestidas de tecnicismo são comuns sobretudo entre os técnicos. Sebastião Lazaroni, cuja equipe tinha de “galgar parâmetros” em “losangos flutuantes”, exibiu nosso fracasso linguístico na Copa da Itália, em 1990. Bastante criticado na época, o lazaronês, no entanto, não chega aos pés do titês em matéria de complexidade.

“Professor”, mesmo, é o Tite. Que diabos significam “imposição de corpos na marcação”, “maleabilidade dos alas”, “performar o resultado”, “previsibilidade do erro” e —a minha preferida— “externos desequilibrantes”? Por estas e outras, não surpreende que o futebol praticado no Brasil ande chatíssimo. E a culpa não pode ser atribuída somente ao VAR.

Enquanto isso, os jogadores comemoram os gols rezando e agradecem a vitória, sempre, a Deus. As mensagens Dele são mais fáceis de decifrar.
 

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do mencionado em versão anterior deste texto, o técnico da seleção brasileira, Tite, não utilizou a frase "sinapses no último terço".

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.