Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva
Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Vândalos do bulevar

Noel Rosa perdeu a mesa, o garçom que lhe servia a cerveja e ainda ficou maneta

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Em “Noel Rosa: Uma Biografia”, João Máximo e Carlos Didier contam que Noel compôs “Tarzan, o Filho do Alfaiate” inspirado na onda do paletó com ombreiras, a qual atraiu nos anos 1930 os rapazes que queriam a qualquer custo parecer-se com Johnny Weissmuller, o campeão olímpico de natação que interpretava Tarzan no cinema. Diz a letra do samba: “Minha armadura é de casimira dura/ Que me dá musculatura/ Mas que pesa e faz doer”.

O próprio compositor estava bem longe de possuir os atributos físicos de Weissmuller. Arrancado a fórceps no nascimento, com o queixo deformado, alimentava-se com papas e comidas fáceis de mastigar, em parte porque não conseguia fazê-lo direito, em parte por vergonha de ser visto em situação de dificuldade. Acabava bebendo, muito mais do que comendo. Resultado: um homem franzino, 50 quilos no seu maior peso.

Mesmo assim, era valente, não perdia a chance de zombar dos outros, andava na companhia de malandros e proxenetas do Estácio e não podia ver um coroinha que logo lhe jogava uma chapinha de cerveja Cascatinha na cabeça. Mas, contra os atuais vândalos do bulevar 28 de Setembro, em Vila Isabel, ele nada pôde fazer.

Num arrastão, Noel Rosa perdeu a mesa e o garçom que lhe servia a cerveja, e ainda ficou maneta. Obra de Joás Pereira Passos, inaugurada em 1996, reproduzindo a cena de “Conversa de Botequim”, a estátua em bronze foi depredada duas vezes em menos de uma semana. No último sábado (13), levaram o tampão da mesa e o encosto da cadeira vazia; na terça (16), arrancaram o braço mirrado do sambista e quase inteiro o pobre do garçom —só lhe restaram os cotocos das pernas. Este foi o terceiro ataque ao monumento desde 2012. 

A propósito: a calçada musical de Vila Isabel, com partituras desenhadas nas pedras portuguesas, está, como se dizia no tempo das conversas de botequim, em petição de miséria. 

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