Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Baratinhas em fuga

Construção de novo autódromo acirra disputa entre Rio e São Paulo

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Biscoito ou bolacha? Play ou parquinho? Totó ou pebolim? Sinal ou farol? Em alguma hipótese, pizza leva ketchup? Um beijinho ou dois beijinhos? E por que não logo três? As picuinhas linguísticas e as tretas comportamentais que dividem o Rio e São Paulo, muito além dos 400 quilômetros e dos 45 minutos de voo (estes dependendo do tráfego), listam-se à farta. Mas tinham de inventar mais uma rixa. E tudo por causa de baratinhas.

Assim eram chamados, nas antigas, os modelos da F-1. Uma época no automobilismo em que os carros pareciam charutos com grandes rodas, lembrando baratas em velocidade de fuga. João Saldanha sempre a eles se referia dessa maneira, não escondendo, quem sabe, o desejo de esmagá-los com o bico do sapato no canto da parede.

Prova em Interlagos, na zona sul paulistana, em novembro do ano passado
Prova em Interlagos, na zona sul paulistana, em novembro do ano passado - Adriano Vizoni/Folhapress

É que o comunista Saldanha implicava com a F-1. Homem do futebol, não a considerava um esporte, e sim uma atividade de pesquisa para o desenvolvimento tecnológico da indústria automobilística. Sem falar no circo de negócios e propaganda capitalista que o esporte (vá lá!) promovia mundo afora. 

Millôr Fernandes exacerbava esse radicalismo: “Vocês nunca viram o Senna correr. Viram Senna no boxe, ou Senna dentro do carro, quer dizer, um pedaço de capacete visto por trás, que pode ser de qualquer um. Isso na tevê. Ao vivo veem apenas bólidos de brinquedo passando”.

Pois, na semana passada, Bolsonaro assinou um termo de cooperação a fim de levar as provas de F-1, atualmente realizadas em São Paulo, para o Rio. Já em 2020. Os paulistas chiaram: nananinanão. A categoria, garantem, vai continuar em Interlagos. 

Bolsonaro promete que o novo autódromo carioca será construído —em tempo recorde de seis meses e ao custo mágico de R$ 700 milhões— na Floresta do Camboatá, área de mata atlântica defendida por ambientalistas. Ainda bem que, na nova era, acabou a mamata. Instalou-se o delírio.

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