Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

A escuridão

São Paulo se aproxima da Los Angeles de 'Blade Runner', onde a luz do sol jamais chega

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Aconteceu no domingo (18), início da noite, momento em que bate uma leve depressão em algumas pessoas —afinal, o dia seguinte é segunda e começa a semana de trabalho. As ruas no centro de São Paulo ficaram sem luz e, do alto, vinha um infernal barulho de explosões e de helicópteros. Quando moradores começaram a gritar por socorro, alguém gritou: "Corta!".

São as filmagens de uma série, produzida por Keanu Reeves, sob os auspícios da prefeitura e do governo do Estado —que não avisaram a população. Nove secretarias estão envolvidas na transformação da cidade em cenário distópico. Tem gente garantindo que viu uma tropa de alienígenas, todos nus em pelo, na avenida Paulista. Como assim?

Foto feita por volta às 15h55, na Marginal Tiête, mostra céu escuro na tarde de São Paulo - Bruno Santos - 19.ago.2019/Folhapress

O susto continuou na segunda (19). Do "nada", por volta das 15h, escuridão impressionante tomou o céu paulistano. O fenômeno foi explicado cientificamente: a chegada de uma frente fria com nuvens (as assustadoras Cumulonimbus) carregadas de fuligem, além dos ventos que têm trazido material das queimadas no Paraguai, divisa com Mato Grosso do Sul.

Internautas brincaram comparando a metrópole aos domínios de Sauron, o Senhor do Escuro, antagonista da trilogia "O Senhor dos Anéis". Eu pensei numa data: novembro de 2019 —logo ali, dobrando a esquina—, época em que se desenrola a ação de "Blade Runner", o filme de 1982 dirigido por Ridley Scott em cima da história de Philip K. Dick. A luz do sol jamais chega na Los Angeles do caçador de replicantes Rick Deckard (Harrison Ford).

Daquele mundo de ficção científica especulativa, já convivemos com a chuva ácida, a engenharia genética, o reconhecimento de vozes, o inglês misturado com outras línguas. Os carros voadores, um velho sonho de consumo, ainda não temos. O mais anacrônico, contudo, é o gosto de Deckard pela leitura de jornais em papel —como se ele fosse um nostálgico e charmoso gutenberguiano.

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