Zeca Pagodinho, de forma sincopada e caprichando na divisão, e Teresa Cristina, sempre elegante, cantando em dueto o samba de Cartola e Elton Medeiros: “Finda a tempestade/ O sol nascerá”. Há muito tempo um tema musical de abertura de novela não exibe tanta qualidade e, de lambuja, lança uma ponta de esperança de que o pesadelo de estupidez em que o Brasil mergulhou um dia vai passar.
“Bom Sucesso”, de Rosane Svartman e Paulo Halm, é uma atração estranha e extemporânea em sua delicadeza. Outro dia, no meio de um diálogo banal, surgiu uma citação de... Cecília Meireles! Os dois protagonistas estão ligados, ora vejam, pelo amor aos livros. Antonio Fagundes faz um editor da velha guarda, que se recusa a publicar porcaria e, claro, está à beira da falência. A costureira Grazi Massafera cuida, sozinha, dos três filhos —e ainda encontra tempo para dedicar-se aos clássicos da literatura.
Como nas novelas há obrigatoriamente um núcleo de personagens pobres e outro de ricos, volta e meia os subúrbios ganham destaque. O da vez é Bonsucesso, que no passado fazia parte das terras de engenho que se estendiam até o porto de Inhaúma e, modernamente, repetiu na zona da Leopoldina o papel do Méier no ramal da Central, com rápida urbanização e industrialização. Há de lembrar o Bonsucesso Futebol Clube, fundado em 1913, de cores vermelho e azul, que chegou a bater no Flamengo por 6 a 2.
O bairro está recriado cenograficamente. Na realidade viver lá não é fácil, ruas e calçadas formando um emaranhado de camelôs e de vans do transporte ilegal. É uma ilha cercada pelas favelas dos dois maiores complexos do Rio, Maré e Alemão. Só lendo os clássicos mesmo.
O Piscinão de Ramos representará a Leopoldina no Campeonato Carioca Feminino de futebol. Desde já, tem a minha torcida.
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