Elton Medeiros nasceu na Glória, passou a infância em Brás de Pina e, já craque em batucar caixinha de fósforo e administrador de empresas trabalhando na Secretaria de Fazenda do Rio, morou muitos anos na Humberto de Campos, uma das mais badaladas ruas do Leblon. Gostava de almoçar no restaurante Degrau: prato de peixe acompanhado de suco de graviola.
Foi lá que ele me contou de sua tremedeira nas pernas ao ser apresentado a Cartola nos anos 1960. Além da afinidade musical, havia uma coincidência na vida dos dois futuros parceiros: o erro no nome de batismo. Elton na verdade era Elto --com um N a menos. Agenor de Oliveira na certidão de nascimento era Angenor --com um N a mais.
"O Cartola brincava dizendo que iria me emprestar o N dele. Um velho escrivão me disse que tais equívocos eram comuns, e na maioria das vezes feitos de propósito, sempre envolvendo famílias negras e pobres. Era um tipo de chacota".
Com fama de rabugento, Elton tinha bronca das histórias que se contavam a respeito de "O Sol Nascerá", sobretudo a de que a música teria sido composta em troca de uma nota de 100 dólares oferecida aos artistas nativos por um turista americano que queria presenciar a criação de um samba na hora:
"Eu e Cartola passamos o dia inteiro tentando compor, mas a coisa não saía. Estávamos na casa dele, na rua dos Andradas. Foi quando chegou o Renato Agostini, empresário que depois comprou o Zicartola, e nos chamou de preguiçosos. Na hora o Cartola mandou: 'A sorrir eu pretendo levar a vida...'. Fui logo atrás: 'Pois chorando eu vi a mocidade perdida'. Em dez minutos o samba ficou pronto".
São lindas as canções que Elton Medeiros, morto na semana passada, aos 89 anos, deixou. Numa eleição, eu voto em "Mascarada", uma parceria com Zé Kéti. É a sua mais rica melodia --e ele era, acima de tudo, um melodista.
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