Não é uma imagem com potencial para entrar nas retrospectivas de 2019. É melancólica. E até comezinha, não fosse a figura envolvida: Oscar Ricardo Valero Recio Becerra, embaixador do México na Argentina. Aos 77 anos, cabelos brancos, trajando elegantemente, de óculos escuros, ele “meteu” um livro e foi flagrado pelas câmeras da livraria El Ateneo, em Buenos Aires. O volume escondido dentro do jornal é o toque final da história: uma biografia de Casanova, o aventureiro e amante veneziano do século 18 —como se o diplomata, com o furto, quisesse recuperar o tempo perdido em sua vida.
Há ladrões de livros de todos os tipos: nazistas (que roubaram milhões deles durante a Segunda Guerra), estudantes pobres, senhoras insatisfeitas, adolescentes zoadores e até os clinicamente classificados como bibliocleptomaníacos —aqueles que têm compulsão, vício ou mania de furtá-los.
Conhecido como o maior ladrão de livros raros do Brasil, Laéssio Rodrigues de Oliveira é um profissional: desde 2004 já foi preso cinco vezes por pilhar acervos do país à caça de papel antigo de alto valor. Seu maior feito: originais de desenhos de Debret e Rugendas, álbuns que podem ser vendidos por mais de 300 mil dólares.
O escritor Roberto Bolaño (1953-2003) era um amador. Em uma de suas últimas entrevistas, ele assumiu a prática: “O bom de roubar livros (e não cofres) é que é possível examinar detidamente o seu conteúdo antes de perpetrar o delito”.
O guatemalteco Rodrigo Rey Rosa —a quem Bolaño lia para “aprender a escrever”— publicou em 2011 a novela “Severina”, adaptada ao cinema pelo brasileiro Felipe Hirsch. Nela conta-se a relação de um livreiro com uma garota que vai até sua loja para sistematicamente roubar. É um delírio amoroso. Mas cuidado: conheço livreiros cariocas cuja sensibilidade em nada se parece à do personagem de Rey Rosa.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.