Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Zumbilândia

Cadáveres do passado, que o país pensava terem sido enterrados, voltam para se juntar a novas assombrações

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Um grupo invadiu a Igreja Sagrado Coração de Jesus, no bairro da Glória, para impedir a realização de uma missa em homenagem ao Dia da Consciência Negra. Eram cerca de 20 pessoas, as mulheres usando véu e os homens ternos, que diziam pertencer ao Centro Dom Bosco. Como o padre não interrompeu a cerimônia, eles começaram a rezar alto o terço em latim, a filmar com celulares e a debochar dos presentes —um deles levou um tapa. Repito: tudo isso aconteceu dentro da igreja.

É cena banal na “nova era”. Cadáveres do passado, que o país pensava terem sido enterrados, voltam como zumbis para se juntar a novas assombrações. O integralismo de extrema direita da década de 1930 ressurgiu com o lema “Deus, Pátria e Família”, defendido pelo novo partido de Bolsonaro, Aliança pelo Brasil —adeptos já o apelidaram de “Três Oitão”, referência ao calibre do revólver que tem o mesmo número da facção política.

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Obra com o nome e símbolo do partido Aliança pelo Brasil, feito com cartuchos de balas - Pedro Ladeira - 21.nov.2019/Folhapress

O episódio da Glória lembrou o Centro Dom Vital, fundado em 1922 por Jackson de Figueiredo, um místico que acreditava ter sido escolhido para levar a Igreja ao poder, usando a divisa “A ordem é superior à liberdade”. Para conseguir o objetivo, não havia problema em atropelar a Constituição. Também se batia por uma arte que, “para ser realmente arte, tem que ser moral, tem que ser católica”. Alguém pensou em Roberto Alvim, atual secretário da Cultura?

Em 1928 Jackson de Figueiredo morreu afogado. Dramaticamente, antes de sumir na praia da Joatinga, fez o sinal da cruz. Seu delírio, hoje, virou a realidade. 

Sob Bolsonaro, a religião manda e desmanda no processo de políticas públicas, transgredindo o caráter laico do Estado. Pressionado para liberar os cassinos, o presidente tem de pedir aval aos evangélicos. Comenta-se que parte do bispado é contra: os fiéis poderiam se esquecer de pagar o dízimo para fazer uma fezinha na roleta.

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