Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Vão trabalhar, vagabundos!

De novo na moda, o insulto acordava o ator Wilson Grey, que fez mais de 250 filmes

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A figura de perfil clássico consagrada por Wilson Grey (1923-1993) em mais de 250 filmes era a mesma da vida real: bigode fino, cabelos gomalinados, sapato de duas cores, blusão de voal, terno e gravata nas ocasiões especiais. Entre um set e outro, ele desfilava sua magreza pelos becos internos da Cinelândia e tardes de páreos e apostas no hipódromo da Gávea.

Nem sempre foi assim. Nos tempos das vacas ainda mais magras do que ele, faltava-lhe tudo —o que dizer da elegância? Mas lhe sobrava picardia para se defender trabalhando como oficce-boy, entregador de farmácia, bicheiro, garçom na zona do Mangue. Bom de taco, virava-se na sinuca, jogando a valer dinheiro.

Ao chegar ao cinema, havia acumulado experiência para qualquer papel. Quando lhe chamaram para interpretar um apontador do jogo do bicho, em "Amei um Bicheiro" (1952), o fez tão bem que quase foi preso pela polícia numa filmagem de rua. Sua glória foi a do ator coadjuvante: "Nunca beijei a mocinha no final da fita". Na época em que atuou como escada (dando as dicas para o parceiro comediante brilhar) nas chanchadas da Atlântida, chegou a rodar mais de dez filmes por ano. Era conhecido como Take One: gravou, pode mandar copiar que ficou bom. Se bobeassem, roubava a cena.

Mas por que estou falando do Wilson Grey a essa altura do furdunço viral e global? É que um amigo me perguntou se eu sabia o que era coliving, o novo conceito de moradia compartilhada. Quando carregava bandejas no Mangue, Grey morava num coliving, que ainda não tinha esse nome besta.

Eram sórdidas hospedarias, onde dormir numa cama era luxo demais. O jeito era sentar numa cadeira e apoiar-se com os braços numa corda esticada, até o dono do negócio aparecer e derrubar todo mundo no chão, aos gritos de "Vão trabalhar, vagabundos!".

Assim agem aqueles que só pensam na economia, não na pandemia.

José Lewgoy e Wilson Grey em cena do filme “Engraçadinha” (1981), de Haroldo Marinho Barbosa, baseado em obra de Nelson Rodrigues
José Lewgoy e Wilson Grey em cena do filme “Engraçadinha” (1981), de Haroldo Marinho Barbosa, baseado em obra de Nelson Rodrigues - Reprodução

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