Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Cinco letras que odeiam

Nas redes sociais, bolsonaristas conseguem se expressar com desprezo ainda maior do que o E daí? presidencial

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O escritor português Mário de Carvalho anotou no Facebook: "Deve ser da palavra escrita. Pouco acostumadas a escrever, as pessoas deixam-se levar pelo embalo. Tenho verificado que criaturas, na vida real (notem: vida real!) razoavelmente delicadas e cordatas, perdem as estribeiras aqui no FB. E é vê-las, para meu espanto, a irritar-se, a cotovelar e, pior, a chamar nomes às outras. E às vezes basta uma trivial e natural diferença de opinião ou de perspectiva".

Autor de mais de 30 livros, alguns publicados no Brasil, como o romance "Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde", Carvalho conclui: "Os profissionais da escrita, 'et pour cause', são mais comedidos e controlados. O que me parece justo sugerir é que pensem duas (ou três) vezes antes de se saírem com uma formulação mais grosseira, ou com um insulto".

Nem sempre os profissionais são mais ajuizados ou corretos. Ficou famoso, na memória do jornalismo, um artigo de Paulo Francis: "Tônia sem peruca". Atuando como feroz crítico de teatro no fim dos anos 50, ele desancou Tônia Carrero, sugerindo que a atriz ascendera ao estrelado usando o sexo.

A reação não foi menos feroz: o diretor Adolfo Celi, então marido de Tônia, e o ator Paulo Autran trocaram sopapos e engalfinharam-se com Francis. Este, mais tarde, se arrependeu do que havia escrito ("o artigo é sórdido", "me portei como um idiota") e de não ter ouvido no calor da hora o conselho de Rubem Braga: "Deixa o texto dormir um dia na gaveta. Se amanhã você quiser publicá-lo, publica".

Hoje as pessoas não pensam um segundo (três vezes, como sugere Mário de Carvalho, seria uma eternidade) antes de responder nas redes sociais a qualquer comentário. Entre os bolsonaristas, o comum é o uso de apenas duas palavras como resposta-padrão: "Teu c...". Frase que consegue a façanha de ter uma letra a mais do que o "E daí?" presidencial.

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