Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Alvaro Costa e Silva

Elizeth Cardoso e dois mundos musicais

Centenário de nascimento da cantora se comemora no próximo dia 16

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Depois do show que ultrapassou a hora e meia prevista (só de bis finais foram mais de 15 minutos), o público uivava. As quase 1.500 pessoas que estiveram no entupido teatro João Caetano (300 delas sentadas no chão ou espalhadas pelas coxias), no dia 19 de fevereiro de 1968, saíram de lá com a certeza de que assistiram a um dos mais impressionantes recitais realizados no país, talvez o maior de todos. E ainda ajudaram a salvar o Museu da Imagem e do Som, que na época enfrentava uma crise financeira —você pode não acreditar, mas o desprezo pela cultura não é exclusividade do governo Bolsonaro.

Foi um espanto. A cantora Elizeth Cardoso conduziu no palco a ligação entre dois mundos musicais: tradição —o virtuose Jacob do Bandolim e o regional Época de Ouro— e modernidade (o conjunto Zimbo Trio, com Amilton Godoy no piano, Luiz Chaves no baixo e Rubinho Barsotti na bateria).

A cantora Elizeth Cardoso, em foto de 1959 - Reprodução

Horas antes, uma chuva de verão, daquelas cariocas, que transformam ruas em rios, quase cancelara o espetáculo. O que deixou o perfeccionista Jacob, que não tivera tempo para ensaiar, ainda mais nervoso. A cronista Eneida de Moraes, que estava nos bastidores, viu quando ele ofereceu um remédio a Elizeth, “para os nervos”, mas foi o instrumentista que passou mal de tanto chorar de emoção após o show.

Por sorte tudo foi gravado em fitas cedidas pela embaixada dos EUA —o MIS nem para isso tinha grana—, e hoje podemos ouvir na internet Jacob e o Zimbo Trio em sua versão para “Chega de Saudade”, Elizeth cantando a capela “Serenata do Adeus”, dividindo com a plateia o coro de “Carinhoso” e todos os seus vibratos e prolongamentos do R no samba “Barracão” (meu momento preferido, se é que é possível escolher um só).

Elizeth Cardoso —cujo centenário de nascimento se comemora no próximo dia 16— será eternamente o que expressa seu epíteto: a Divina.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.