Na tradição brasileira, há leis que pegam e outras que não. Em tempo de Covid, há decretos que não pegam nem a fórceps. Para se manter o que hoje é divulgado como saúde mental, lotar praias e aglomerar-se em bares virou uma compulsão tolerada no Rio. A prefeitura, no entanto, segue impondo regras para fingir que está combatendo a pandemia.
Mesmo com o sobe e desce na ocupação de UTIs nas últimas semanas, a cidade entrou desde quinta-feira (1) em mais uma fase de retomada das atividades. Festas de casamento, de aniversário e de formatura estão liberadas (como se antes elas não acontecessem), mas sem "compartilhamento de objetos". Ou seja, o presente está dispensado, você pode chegar de mãos abanando.
Sobre o banho de sol, ainda não foi dessa vez, ao menos na planilha do prefeito. Com a cabeça em outro mundo de Deus, disse Crivella: "As pessoas só podem ir à praia para nadar. Não podem ficar na areia. Nadem e voltem para casa. Faltam 15 dias para a última fase". Ah, sim, aulas de hidromassagem estão valendo. Mens sana in corpore sano.
Outra novidade é a permissão de música ao vivo em bares e restaurantes, os quais continuam impedidos de vender bebida para quem está de pé na rua. O estranho é que rodas de samba não tinham sido contempladas no decreto. Como se Crivella parodiasse a madame do sincopado de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa: "Prefeito diz que a raça não melhora/ Que a vida piora por causa do samba/ Prefeito diz que o samba tem pecado/ Que o samba, coitado, devia acabar". Depois da grita, tantãs e pandeiros foram enfim permitidos. Mas roda de samba ainda não pode em quadras de escola... de samba. Vá entender.
A venda de pipoca e de refrigerante volta aos cinemas depois que os empresários garantiram que, sem eles, reabrir daria prejuízo. O cinema já foi a maior diversão. Hoje é a melhor mastigação.
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