Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Lan, o amor no traço

Autor da mais famosa charge política da imprensa brasileira, Lan sempre preferiu o povo aos políticos

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"Gosto muito de desenhar os seios da mulher. Pequenos, arrebitados, apontados para a Lua", contava Lan. "Barriga é outra coisa que adoro desenhar: lisinha, com umbiguinho. Quase tenho um orgasmo. Depois vem a bunda, que não é o principal, mas compõe o desenho. Todo mundo acha que ela é fácil de fazer. Não é".

Morto na quarta-feira (4), aos 95 anos, o artista carioca nascido na Itália teve o nome de batismo abreviado nos obituários: Lanfranco Aldo. O espaço aqui é curto, mas não resisto a escrever o nome inteiro, que carrega uma sonoridade principesca e sensual: Lanfranco Aldo Ricardo Vaselli Cortellini Rossi Rossini.

O cartunista Lanfranco Aldo Ricardo Vaselli Cortellini Rossi Rossini, ou simplesmente Lan, em sua casa, em Petrópolis - Fabio Rossi/Agência O Globo

A mesma sensualidade com a qual ele observou e retratou o Rio durante quase 70 anos: as curvas dos morros, das ondas nas praias, das passistas nas escolas de samba, dos dribles no Maracanã. Autor da mais famosa charge política da imprensa brasileira —Carlos Lacerda como um demoníaco corvo, publicada no jornal Última Hora a pedido do patrão Samuel Wainer—, Lan sempre preferiu o povo aos políticos.

Sua obra-prima é o álbum "É Hoje!", lançado em 1978, uma crônica ilustrada do Carnaval feita no lápis, "o mais malandro dos instrumentos de desenho". Estão nele os ancestrais da brincadeira, muitos dos quais o cartunista conheceu pessoalmente: Caninha Verde, Manuel Bam-Bam-Bam, Carlos Cachaça, Antonico do Pendura Saia, Delegado, Natal da Portela, Casemiro Calça Larga (que ensinou Lan a beber conhaque de alcatrão São João da Barra no alto do morro do Salgueiro). E Nair Pequena, a inventora do "cachorrinho", maneira de rebolar que consistia em mexer um lado da bunda de cada vez.

Portelense, rubro-negro, casado com a lindíssima Olivia, uma das Irmãs Marinho. O amor de Lan pelo Rio transbordava até no sotaque que ele jamais perdeu. Se o próximo prefeito demonstrar 10% desse amor, a cidade está salva.

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